Cardiopatias congênitas: da avaliação pré-natal à cirurgia
Dra. Lisandra Stein Bernardes
Coord. da Medicina e Cirurgia Fetal e do Grupo de Apoio Integral e da GO do Hospital Sepaco
Dra. Mariana Azevedo Carvalho
Médica do Centro de Medicina Fetal do Hospital Sepaco
As cardiopatias congênitas são as alterações estruturais que ocorrem com maior frequência na vida intrauterina, sendo responsáveis por 1/3 de todas as malformações estruturais. O rastreamento adequado durante o pré-natal tem o objetivo de melhorar as chances de sobrevida do recém-nascido, visto que as cardiopatias são a principal causa de mortalidade neonatal em recém-nascidos com defeitos congênitos.
Infelizmente, as taxas de detecção das malformações cardíacas ainda são baixas no Brasil, com índices menores que 50%, e são bem variáveis entre as diferentes regiões do país. Contudo, quando o exame é feito por especialistas em Medicina fetal com expertise na avaliação cardíaca, essas taxas aumentam, sendo possível detectar algumas cardiopatias já no morfológico de primeiro trimestre.
A identificação da malformação em fases mais precoces da gestação permite organizar o seguimento ultrassonográfico e do pré-natal de forma diferenciada, a fim de diminuir os riscos para essa gestação. Permite ainda oferecer investigação genética quando necessário e programar a organização do parto em serviço com equipe de cirurgia cardíaca, equipe neonatal e cardiopediatras com experiência no acompanhamento dos recém-nascidos cardiopatas. O seguimento pré-natal especializado e a estruturação do parto contemplando as equipes que cuidarão do bebê diminuem os riscos e aumentam a sobrevida das crianças com cardiopatias diagnosticadas na vida intrauterina.
Além disso, há situações em que os fetos podem se beneficiar de intervenção intrauterina, quando existe alguma malformação na qual ocorre progressão pré-natal da lesão e descompensação. Estenose valvar aórtica crítica e forame oval fechado ou severamente restritivo em fetos com lesões obstrutivas críticas do coração esquerdo são exemplos de cardiopatias que podem ter evolução na vida intrauterina. Esse tipo de intervenção consiste na passagem de um balão guiado por ultrassom nas áreas de restrição ao fluxo sanguíneo e abertura da valva ou do orifício que necessita de maior passagem de fluxo. Essas cirurgias são planejadas e realizadas por equipe treinada de obstetras especialistas em Medicina fetal, ecografistas, equipe de hemodinâmica e equipe de cirurgia cardíaca.

O acompanhamento permite a detecção precoce de doenças fetais e maternas. O Sepaco possui um Centro de Medicina Fetal voltado para as consultas e exames diagnósticos de rotina na gestação (ultrassons morfológico e obstétrico, entre outros) e também para o acompanhamento de bebês com diagnóstico de doença intrauterina.
Alguns bebês com cardiopatias podem necessitar também de intervenção imediatamente após o nascimento, como os que têm bradicardias com frequência cardíaca abaixo de 60 batimentos por minuto, havendo a necessidade de colocação de marcapasso, ou as cardiopatias com alto risco de instabilidade hemodinâmica após a realização do parto.
Dessa forma, o acompanhamento adequado durante o pré-natal, assim como a organização do parto em hospital de referência e o seguimento pós-natal do recém-nascido por equipe multiprofissional especializada, são os pré-requisitos para aumentar as chances de sobrevida do recém-nascido, além de diminuir as possíveis complicações relacionadas à doença cardíaca congênita.
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