Brinquedo terapêutico no cuidado de Enfermagem da criança hospitalizada

Tempo de leitura: 5 minutos

Leticia Lemes de Oliveira
Enfermeira Administrativa da Pediatria do Hosp. Sepaco

Michelle Cristina Ferreira
Enfermeira Instrutora de Treinamento da Pediatria do Sepaco

O período de hospitalização na maioria das vezes é um processo que vem acompanhado de um turbilhão de sensações e emoções. Para um adulto, a situação na maioria das vezes é conhecida, seja por ter sido vivenciada pela própria pessoa ou por parentes e amigos. Por outro lado, na Pediatria encontramos um cenário totalmente diferente.

Quando uma criança é internada, ela se depara com situações novas e totalmente fora da rotina vivenciada desde o momento do nascimento. Isso modifica hábitos e coloca elementos na rotina totalmente desconhecidos, promove a separação dos familiares e amigos, insere no círculo de contatos pessoas “estranhas” que entram no leito para a realização de procedimentos invasivos e dolorosos, gerando sentimentos como medo, angústia e ansiedade, demonstrados pela criança na maioria das vezes através de choro, irritabilidade, tristeza ou até mesmo isolamento.

Para minimizar o estresse, entra em cena um velho conhecido: o brincar. Esse ato tão simples envolve a criança em um mundo de magia e fantasia, distanciando-a da realidade hospitalar e atuando como etapa auxiliar e coadjuvante na amenização dos efeitos relacionados ao trauma da hospitalização.

Em outro âmbito, é com o ato de brincar que a equipe de Enfermagem atua na humanização do cuidado e na inserção da criança e de seus familiares em seu próprio tratamento por meio da utilização de uma técnica chamada “Brinquedo terapêutico”. Esse método é responsável por aproximar a criança da realidade em que ela está inserida naquele momento e utiliza um brinquedo estruturado e confeccionado contendo os dispositivos médicos usados pela criança durante a hospitalização. Isso permite que o pequeno paciente e seus familiares sejam preparados e também informados sobre procedimentos terapêuticos que serão realizados e/ou dispositivos que permitam a capacitação ao autocuidado e a preparação para novas condições de vida.

Para demonstrar a efetividade desse método, a seguir vamos conferir o relato de uma experiência relacionada a um caso vivenciado pela enfermeira Elaine de Moraes, da Unidade de Internação Pediátrica. Ela percebeu as necessidades da criança e trouxe uma boneca terapêutica apelidada carinhosamente pela equipe como “Gabizinha”.

Escolhi esta paciente para presentear com a boneca terapêutica, pois durante um procedimento percebi a sua fragilidade: ela mostrava-se muito agitada, chorosa e desesperada. Como profissional da unidade pediátrica e mãe de menina com idade aproximada, fiquei preocupada.

Entendi que precisava tornar os procedimentos menos traumáticos e fazê-la reconhecer-se e compreender a necessidade do acesso venoso, da traqueostomia e da sonda enteral. Sem previsão para retirar a traqueostomia, devido ao granuloma e à paralisia de cordas vocais, não gostaria que tal item a deixasse ainda mais traumatizada.

Selecionei uma boneca vestida de fada para que ela entendesse que até os seres mágicos podem ser diferentes. Pedi ajuda na equipe e fui atendida pela Técnica de Enfermagem e artesã Anna Carolina Carrion Cavalheiro, que facilmente deixou a “Gabizinha” bastante parecida com a paciente!

Pouco antes da entrega, expliquei a função do item para a mãe: a filha deveria expressar as ansiedades e medos por meio da boneca e entender a necessidade dos dispositivos e procedimentos. Depois, encorajei a mãe a também utlizar o brinquedo, inserindo seringas na sonda e fazendo o procedimento de aspiração para que a paciente compreendesse o processo. Ela aceitou a ideia e nós duas ficamos emocionadas!

Ela adorou a surpresa! Ao longo dos dias, começamos a vê-la brincando com a boneca e entendemos que o objetivo foi alcançado, contribuindo para diminuir os traumas de uma internação longa com repetidos procedimentos.


Referências bibliográficas
1 – MALAQUIAS, T. S. M. BAENA, J. A. CAMPOS, A. P.S. MOREIRA, S. R. K. BALDISSERA, V. D. A. HIGARASHI, I. H. O uso do brinquedo durante a hospitalização infantil: saberes e práticas da equipe de enfermagem. Paraná, 2014.

2 – RAINATO, M. S. ROCHA, E. L. FERRARI, R. A. P. Benefícios da utilização do brinquedo durante o cuidado de enfermagem prestado à criança hospitalizada.

Sobre os autores

  • - Enfermeira Administrativa da Pediatria do Hosp. Sepaco
    - Pós-graduação em Clínica Médica e Cirúrgica pela Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein
    - Graduação em Enfermagem pela Universidade Paulista (UNIP)

  • Gestora de Enfermagem da Pediatria
    - Especialista em Pediatria e Neonatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein
    - Graduação em Enfermagem pela Universidade Cruzeiro do Sul