Prematuridade: quando a vida começa mais cedo

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Dra. Renata Castro
Coordenadora assistencial da UTI neonatal do Hospital Sepaco

A chegada de um bebê é um momento único para a família. Desde a descoberta da gestação até o parto, expectativas e sonhos foram construídos sobre a criança, sendo o momento do nascimento carregado de emoção. Quando esse nascimento ocorre antes do esperado, ou seja, antes de 37 semanas de idade gestacional, o parto é considerado prematuro. Nascer prematuro não é tão incomum: no Brasil, por exemplo, são cerca de 340 mil por ano.

O parto prematuro, principalmente quando ocorre muito antes do previsto, traz riscos para o recém-nascido. Bebês prematuros precisam de cuidados especiais e, muitas vezes, internação em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, com acompanhamento multiprofissional, podendo ser por períodos prolongados. Seu organismo não está totalmente desenvolvido e vai precisar amadurecer fora do útero materno, ganhar peso, aprender a mamar e até aprender a respirar sozinho.

Seu corpinho vai, sim, continuar se desenvolvendo, mas em um ambiente artificial, não tão aconchegante como o útero materno, sujeito a intercorrências que podem interferir na formação de seus órgãos e sistemas. O desenvolvimento de seus pulmões pode ser afetado pela ventilação mecânica, de seus rins por medicações tóxicas, seu cérebro pode sofrer injúrias por manipulações, infecções e até desequilíbrios de temperatura. São bebês frágeis que precisam de um olhar atento de toda uma equipe especializada multiprofissional.

Os bebês prematuros nos ensinam sobre força, paciência e resiliência. Enfrentam desafios na sobrevivência e na adaptação tão precoce à vida extrauterina, tendo o útero substituído pela incubadora e o contato exclusivo com a mãe e seus estímulos corporais substituído pela convivência diária com múltiplos profissionais de saúde, luminosidade, barulhos indesejados, frio, eventos dolorosos e manipulações excessivas. Para garantir uma evolução menos traumática e dolorosa, sãos essenciais a presença e o acompanhamento dos pais nesse processo, tanto para o desenvolvimento do bebê, beneficiado pelo contato pele a pele com os pais, pela voz e pelo carinho, quanto pela possibilidade de vivenciar o dia a dia na recuperação de seu filho, na comunicação com a equipe médica e multiprofissional sanando dúvidas e participando do projeto terapêutico.

Vivemos um momento ainda de restrições, e a pandemia do coronavírus trouxe inúmeros desafios com o isolamento social e a necessidade de restringir visitas familiares na UTI. No caso de recém-nascidos prematuros, filhos de mãe covid positivo, com parto desencadeado pela infecção pelo coronavírus ou outras complicações, a situação fica ainda mais delicada. Inicialmente, questionou-se a necessidade de separar rotineiramente mães covid positivo e seus recém-nascidos, pois sabemos que infecções virais como bronquiolite podem ser devastadoras em bebês muito pequenos e com a imunidade imatura. Porém, a certeza dos benefícios da presença da família para o bebê, principalmente prematuro e baixo peso, e a importância do aleitamento materno fizeram com que as equipes de saúde buscassem alternativas para garantir a presença materna nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal, mesmo nesse período tão desafiador. No Hospital Sepaco, prezando pela humanização e pelo cuidado centrado na família, buscamos minimizar a separação entre pais e bebês em caso de mães covid positivo. Protocolos foram organizados, a equipe foi treinada e o contato da mãe com o bebê foi garantido, de forma segura e controlada.

O prematuro requer cuidados específicos e monitoramento constante.

Sobre o autor

  • - Coordenadora assistencial da UTI neonatal do Hospital Sepaco
    - Médica Pediatra Neonatologista pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e Sociedade Brasileira de Pediatria