Eu oriento, você aprende e nós crescemos: os ganhos com a supervisão e preceptoria de estágio

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Débora Mendes Correia Silva
Fabio Alexandre Paiva Freitas

da Redação da Revista Scientia

Alguns setores do Hospital Sepaco têm vivenciado uma mudança no cotidiano de suas atividades. Além de contar com sua tradicional rotina assistencial focada no paciente e seus familiares, que naturalmente gera a circulação de diversos profissionais de diferentes especialidades pelos postos de trabalho, a presença de novos personagens, alunos e preceptores, tem sido constante.

O reconhecimento da qualidade e competência dos serviços prestados pela nossa instituição tem nos colocado em uma situação de visibilidade no mercado de saúde e, com isso, tem crescido a procura por parte de instituições de ensino (IE), em seus diversos níveis de formação e áreas, para que seus alunos realizem estágio aqui, possibilitando assim uma vivência de um ambiente profissional diverso e de excelência.

O Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) tem coordenado, junto com os líderes das áreas, parcerias com as IE que possibilitem uma melhor troca de conhecimento, oferta de contrapartidas que beneficiem nosso pessoal e o emprego de profissionais do nosso time para supervisionar esses educandos, dando assim a oportunidade de conhecer a instituição de uma forma mais intensa e alinhada com os valores pelos quais zelamos.

São médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos e outros membros das nossas equipes que auxiliam na consolidação do conhecimento de um profissional que está em formação.

Por si só, o encontro com um educando estabelece uma relação de conflito de saberes entre pessoas que apresentam diferenças em seus valores, interesses e conhecimentos. Em sua imensa maioria as relações não são de dominação entre alguém com mais bagagem de conhecimento sobre um indivíduo que possui menos, mas sim uma interação que ao seu final ambos saem ganhando (1).

Se por um lado o profissional que já está atuando partilha sabedoria, conhecimento e experiências adquiridos ao longo de sua trajetória, do outro traz consigo o conhecimento teórico atualizado, pautado em evidências e estudos recentes, mas que precisa que isso seja compreendido à luz da prática profissional (2).

Para o educando, o estágio é uma excelente oportunidade para aprender a ter mais independência, trabalhar com a equipe multiprofissional, ganhar postura profissional e lidar com o público, habilidades essas que não são possíveis de serem adquiridas por meio das aulas teóricas ou nas atividades que ocorrem ao longo do curso em ambientes como laboratórios de práticas.

Em um estudo conduzido por Tavares e colaboradores (2), verificou-se que o ato de receber e supervisionar alunos se revela como uma fonte de satisfação, uma vez que o profissional do estabelecimento de saúde participa da formação de outro e tem a oportunidade de relembrar vivências passadas, ofertar algo de que sentiu falta, tornando-o uma espécie de modelo ou referência para quem está iniciando e possibilita ainda momentos de aprendizagem.

O convívio com estudantes leva aqueles que estão no dia a dia de suas atribuições assiste-nciais a refletir acerca de seu momento profissional, gerando um movimento de ajuste das uas práticas para que se tornem melhores modelos, além de induzi-los a avaliar o espaço que ocu-pam, o que conseguiram conquistar, e provocar um desejo de crescer e caminhar para novos objetivos.

Outro ponto importante advém da percepção que os profissionais do setor obtêm nesses momentos junto ao educando, provocando-os para um estímulo à atualização por meio das inovações e dos conhecimentos advindos dessas trocas. Isso resulta em crescimento pro-fissional e social em um primeiro momento do indivíduo e por consequência do serviço como um todo.

Para o acompanhamento desses estágios com seus respectivos alunos, o IEP, em conjunto com os gestores das áreas/especialidades, sempre tem procurado indicar um profissional para exercer o papel de preceptor acompanhando um ou mais alunos.

Um preceptor pode ser definido como um profissional que está inserido no serviço, sendo mais experiente com a prática ao assumir o papel de professor, instrutor ou supervisor, ser-vindo como referência (modelo) durante aquele período do estágio. Esse papel é importante na formação, inserção e socialização do graduando (ou pós-graduando, como no caso da residência) no ambiente de trabalho. Cabe a ele o desenvolvimento integrado ligando a teoria com a prática, além de fornecer avaliações pontuais que demonstrem se os objetivos do processo de ensino-aprendizagem estão sendo cumpridos (3).

É importante destacar que a execução da preceptoria, em especial no âmbito dos programas de residência, exige, além de competências técnicas, competências e habilidades de comu-nicação e pedagógicas a fim de realizar uma adequada mediação entre a teoria e a prática, que é o escopo dos programas de ensino.

Dada a importância do papel do preceptor nessa cadeia de ensino e transformação, pode-se questionar: qual é o perfil ou características esperadas desse tipo de profissional para que exerça essa atividade?

A literatura refere que tal indivíduo deve ter maior tempo de experiência profissional e na instituição. Que este conheça os processos assistenciais do campo de práticas (que em si é o seu local de trabalho), tenha um bom conhecimento e habilidade clínica, saiba resolver os problemas do cotidiano demonstrando tranquilidade e sobriedade, atue como um facilitador na resolução de conflitos, compreenda as constantes mudanças tão comuns ao cenário da prática, para que, dessa forma, consiga desenvolver ações de planejamento, criatividade, motivação e integração (a chamada de competência pedagógica) (4, 5, 7, 8). Complementando esses itens, também podemos mencionar o Conselho Nacional de Residência Médica (CNRM), que se refere ao preceptor como um profissional com elevada qualificação ética, profissional e notório saber na especialidade (6).

Como um importante diferencial está a habilidade de saber se comunicar bem, conduzindo assim o educando em um desafio de reflexão crítica, para que dessa forma seja possível conectar os conhecimentos adquiridos até então com a prática assistencial de saúde. O produto será um profissional apto a desempenhar seu papel dentro de um processo de ação-reflexão-ação, não se tornando um mero repetidor de algo que lhe foi dito, mas sim um profissional com um pensamento crítico e reflexivo (3, 7, 8).

Podemos dizer que o profissional da instituição de saúde que se propõe a acompanhar um estágio assumindo o papel de supervisor ou preceptor aumenta para si a oportunidade para novas experiências de aprendizado, melhora o desempenho de suas habilidades assistenciais e consequentemente amplia a capacidade de gerenciar o cuidado (8).

Sabemos que, na área de saúde, a qualidade do ensino, que possibilita a oferta de profis-sionais mais bem qualificados, bem como o desenvolvimento do saber, se fazem por meio de uma parceria legítima que envolva a IE e os serviços de saúde. O Hospital Sepaco tem se de-dicado a verificar a melhor forma de assumir esse papel junto à formação e ao desenvolvi-mento de novos profissionais, assim como do setor de saúde de forma geral. Essa integração ensino-serviço pode ser vista como uma estratégia que tem se mostrado proveitosa tanto para as IE como para nós, pois os modelos e jeitos de trabalhar vão sendo ensinados, discutidos, avaliados e transformados enquanto ainda estão sendo praticados. A educação se apresenta como uma possibilidade para educando e educador operarem de forma compartilhada, como sujeitos de sua prática (7).

Sem dúvida, as melhores experiências com estágio provêm das instituições de saúde que apoiam as iniciativas acadêmicas e de integração junto às IE, e é isso o que o Hospital Sepaco tem buscado.

Referências bibliográficas

  1. Barbeiro FMS, Miranda LV, Souza SR. Enfermeiro preceptor e residente de enfermagem: a interação no cenário da prática. Revista de Pesquisa: cuidado é fundamental online. 2010; 2 (3): 1080-87.
  2. Tavares PEN, Santos SAM, Comassetto I, Santos RM, Santana VVRS. A vivência do ser enfermeiro e preceptor em um hospital escola: olhar fenomenológico. Revista Rene. 2011; 12(4): 798-807.
  3. Valente GSC, Brito CG, Ferreira SCM. O papel do monitor na formação do acadêmico de enfermagem e as interfaces com a sua própria formação para o ensino. Revista de Pesquisa: cuidado é fundamental online. 2011; 3 (3): 2146-56.
  4. Botti SHO, Rego S. Preceptor, supervisor, tutor e mentor: quais são seus papéis? Revista Brasileira de Educação Médica. 2008; 32 (3): 363-373.
  5. Mills JE, Francis KL, Bonner A. Mentoring, clinical supervision and preceptoring: clarifying the conceptual definitions for Australian rural nurses. A review of the literature. Rural and Remote Health. 2005; 5: 410 (online): 1-10.
  6. Brasil, Decreto n.º 80.281, de 5 de setembro de 1977. Regulamenta a Residência Médica, cria a Comissão Nacional de Residência Médica e dá outras providências. Diário Oficial da União.
  7. Araújo JAD, Vendruscolo C, Adamy EK, Zanatta L, Trindade LL, Khalaf DF. Estratégias para a mudança na atividade de preceptoria em enfermagem na Atenção Primária à Saúde. Rev Bras Enferm. 2021; 74(suppl 6).
  8. Esteves LSF, Cunha ICKO, Bohomol E, Santos MR. Supervisão clínica e preceptoria/tutoria – contribuições para o Estagio Curricular Supervisionado. Rev Bras Enferm. 2019; 72(6): 1730-5

Sobre os autores

  • - Assistente Administrativa do Instituto de Ensino e Pesquisa no Hospital Sepaco
    - Cursando Administração de Empresas pela UNIP
    - Técnica em Química pelo Colégio Kennedy
    - Técnica em Segurança do Trabalho ETEC

  • - Enfermeiro de Ensino e Pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa no
    Hospital Sepaco
    - Bacharel e licenciado em Enfermagem pela Universidade Federal do Paraná
    - Aprimoramento em Saúde Baseada em Evidências pelo Hospital Sírio Libanês
    - Especialista em Enfermagem em Emergência pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
    - Especializando em Gestão e Engenharia da Qualidade pela Poli-USP