Evidência científica
Daniela boschetti
Da redação da revista scientia
Evidência científica é a informação que adquirimos através
de estudos e métodos que reduzem as chances de um
resultado ser fruto do acaso ou de outras circunstâncias.
Indica que as decisões clínicas devem ser embasadas a
partir de pesquisas científicas que possuem o melhor
“grau (ou força) de recomendação”. Não podemos negar
que os avanços metodológicos nas pesquisas tornam a
prática clínica muito mais confiável, e quanto mais controlado
o estudo, maior a confiabilidade de seus resultados.
Durante muitos anos, uma pirâmide expressou a ideia
de hierarquia de evidência científica (Figura 1). Nela,
os tipos de estudo eram classificados de acordo com
a evidência clínica e científica que possuíam. Essa
classificação foi motivada pela necessidade de usar
o conhecimento científico como apoio na prática clínica.
Por isso, os estudos são classificados quanto ao tipo e à
qualidade. Inúmeros sistemas apresentam-se como
alternativas para classificar tal informação. Entre eles,
destacamos o sistema GRADE (Grading of Recommendatons
Assessment, Development and Evaluaton).

O sistema tem como principal objetivo a criação de um modelo
universal, transparente e sensível que classifica a qualidade das
evidências e a força de recomendação considerando potenciais
vantagens (efeitos benéficos na melhoria na qualidade de vida,
aumento da sobrevida e redução dos custos) e desvantagens
(riscos de efeitos adversos, a carga psicológica para o paciente
e seus familiares e os custos para a sociedade). Com relação à
qualidade dos estudos, o sistema é dividido em quatro níveis:
alto, moderado, baixo e muito baixo (Figura 2).

Contudo, em 2016, Murad e colaboradores sugeriram uma
nova abordagem para a pirâmide de evidências original
(Figura 3). Trocaram as linhas retas separando os estudos
por linhas onduladas, refletindo, assim, a abordagem com
base nos vários domínios da qualidade da evidência,
compreendendo, dessa forma, que um estudo do tipo
coorte sendo bem realizado pode gerar uma certeza
de evidências melhor do que um ensaio clínico randomizado
que contenha falhas metodológicas. Essa primeira mudança
demonstra que os diferentes níveis não possuem mais uma
hierarquia estática.

A segunda alteração corresponde ao topo da pirâmide
original, onde eles destacam as pesquisas classificadas
como revisões sistemáticas/meta-análise da pirâmide
e as utilizam como uma LENTE, por meio da qual os
outros tipos de estudo devem ser avaliados e aplicados.
Considerando que o amplo e rigoroso processo de seleção
dos estudos de revisões sistemáticas e a meta-análise cujo
objetivo é a agregação estatística dos dados que produz
um único tamanho de efeito são ferramentas para consumir
e aplicar às evidências pelos profissionais de saúde.
Estudos clínicos são essenciais para basear a tomada de
decisões de profissionais da saúde que lidam na assistência.
Ter um olhar crítico e ser criterioso em sua busca pela
informação são características essenciais do profissional
e conhecer essas ferramentas facilita a tomada de decisão.
A evidência científica não é absoluta, contudo, é o melhor
instrumento que temos em mãos hoje para oferecer o
caminho mais seguro para os pacientes.
Referência bibliográfica
• Diretrizes metodológicas: Sistema GRADE – Manual de
graduação da qualidade da evidência e força de recomendação
para tomada de decisão em saúde / Ministério da Saúde,
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos,
Departamento de Ciência e Tecnologia. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
• Lozada-Martínez, Ivan David et al. Practical guide for the use
of medical evidence in scientific publication: recommendations
for the medical student: narrative review. Annals of Medicine
and Surgery, v. 71, p. 102932, 2021.
• Murad, M. Hassan et al. New evidence pyramid. BMJ Evidence-Based
Medicine, 21 (4), 125-127, 2016.