Incêndios em hospitais

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Amanda Germano Pereira
Técnica de Segurança do Trabalho no Hospital Sepaco

O ano de 2020 foi de grande destaque para os hospitais no mundo inteiro, devido a circunstâncias envoltas do novo coronavírus, em que as estruturas hospitalares foram muito exigidas, bem como seus recursos humanos. Em 2020, até o mês de outubro, foram registradas 45 ocorrências de incêndio em Unidades de Saúde no Brasil (fonte: https://is.gd/aWxnOh). Um dos últimos noticiados foi o incêndio no Hospital Federal de Bonsucesso, localizado no Rio de Janeiro, que resultou na morte de cinco pacientes. Outro evento de grande repercussão envolvendo incêndio em hospitais foi o que ocorreu no Hospital Badim no ano de 2019, também localizado no Rio de Janeiro, onde morreram 25 pessoas, sendo que 13 delas morreram diretamente pela inalação de fumaça.

Esses eventos fazem com que se tenha a reflexão sobre a prevenção: o que temos feito para evitar que situações do tipo aconteçam em nosso local de trabalho, para que o paciente, colaboradores, prestadores de serviço e visitantes tenham segurança no momento em que estão nas dependências hospitalares?

O problema é sério e merece atenção. Em ambos os casos citados, problemas estruturais e a falta de treinamento para capacitar as pessoas contribuíram para que o problema se agravasse.

O Sepaco sempre teve um cuidado especial para com essas questões, nas quais podemos destacar:

1) Sistema de compartimentação: Finalizado em 2020, trata-se de um sistema que, em caso de incêndio, impede que o fogo, fumaça e o calor passem de um ambiente para outro. Com isso, permite que a população de um lado do andar, caso necessário, seja transferida para o outro lado do mesmo andar, onde certamente estará mais segura, aguardando outras orientações. A compartimentação é de grande importância e fundamental em uma ocorrência de incêndio, é composta pelas portas corta-fogo e funciona da seguinte forma: o funcionamento do sistema é amplamente divulgado em treinamentos, simulados de emergência e vídeo institucional (figuras 1 e 2).

2) Sistemas de selagem corta-fogo: Também finalizados em 2020, são sistemas de proteção passiva, instalados nos shafts de passagens de rede elétrica, hidráulica, telefonia e passagens de instalações de qualquer tipo, que garantem que a fumaça e o fogo fiquem contidos no ambiente onde o fogo se iniciou, permitindo assim o resgate e desocupação das pessoas com maior segurança. A selagem é composta por placas de lã de rocha, indicada para médios e grandes vãos, com comprovação de desempenho para 2 horas de estanqueidade (figura 3).

Figura 3: Selagem corta-fogo. Fotos: Arquivo Pessoal

3) Comissão de Gerenciamento de Riscos Físicos: Criada em Junho/17, a equipe é composta por representantes de vários setores, com o propósito de identificar e mitigar riscos, por meio de ações como check list, inspeções periódicas, inspeções técnicas e auditorias internas.

Logo de início, a comissão realizou vistoria em todo o prédio do hospital, focando a parte elétrica, onde foram encontrados 981 oportunidades de melhoria, que foram subdivididas em 81 relatórios fotográficos, e o acompanhamento das melhorias foi realizado por meio de ordem de serviço utilizando o sistema Tasy.

Foco da primeira inspeção:

Os resultados da inspeção de risco elétrico foram repassados a todas as lideranças, onde foi exposta a necessidade do envolvimento delas nessa cultura de prevenção, sendo inclusive inserido na descrição de cargo das lideranças o foco em prevenção. A ideia não foi transferir a responsabilidade técnica sobre o tema para as lideranças, mas engajá-las e, consequentemente, as equipes.

Foram resultados imediatos das inspeções e avaliações desta comissão:

• Padronização de adaptadores e filtros de linha, que visam não sobrecarregar a rede, evitando possíveis focos de incêndios por curtos-circuitos;
• Criação de novo check list diário, e por plantão, para a segurança patrimonial inspecionar itens voltados à proteção da edificação (porta corta-fogo, hidrantes, extintores, kits da brigada);
• Criação de procedimento técnico operacional, para a equipe de eletricista, inspecionar os equipamentos críticos diariamente, utilizando termômetro a laser e registrando em formulário;
• O plano de abandono de área foi reformulado, identificando em cada andar suas características e possíveis dificuldades;
• Aquisição de kits brigadistas compostos por mochila (conteúdo: luva de vaqueta, apito, coletes, etiquetas de classificação START, lanterna, tesoura, canetão) e prancha (conteúdo: prancha, mascarilha, lençol aluminizado, bandagem triangular, colar cervical, talas moldáveis, EPIs para primeiros socorros). O kit está localizado próximo às escadas de emergência em todos os andares;
• Ampla divulgação do ramal de emergência, ficando fixo como pop-up na intranet, e fixado em adesivo em todos os aparelhos de telefone do Sepaco;
• Treinamentos de brigada de incêndio mensais para enfermagem, com foco no hospital e no plano de abandono;
• Treinamento de simulado de abandono nos setores que no total somaram cerca de 600 participantes;
• Brainstorming com hospitais parceiros;
• Troca de estrutura dos painéis de gases medicinais;
• Troca do miolo dos quadros elétricos de todo o Centro Cirúrgico;
• Separação de cabeamento lógico e elétrico no shaft;
• Substituição das caldeiras da cozinha;
• Sistema de eletroímã nas portas corta-fogo;
• Redimensionamento de detectores de fumaça;
• Redimensionamento de detectores de gás na cozinha;
• Reforma da cabine de pintura e marcenaria, com foco em itens antiexplosão;
• Troca da comunicação visual, com intuito de facilitar a circulação das pessoas;
• Atualização do SPDA (Sistema de Proteção de Descargas Atmosféricas);
• Retirada de equipamentos elétricos de uso particular dos setores. (O uso de equipamentos não padronizados pela Instituição pode acarretar em problemas elétricos).

Um ponto muito importante foi a implantação da cultura prevencionista, com um olhar mais detalhado para identificar e mitigar riscos, tornando nossa instituição um ambiente mais seguro e agradável.

Em 2019 o projeto da Comissão de Gerenciamento de Riscos Físicos foi premiado em 1º lugar em congresso de boas práticas realizado pelo Sindhosfil (Sindicado das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Filantrópicos do Estado de São Paulo).

O trabalho realizado pelo Sepaco no gerenciamento de riscos físicos foi reconhecido e premiado. Foto: Arquivo pessoal

Sobre o autor

  • - Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Nove de Julho
    - Pós-Graduada em Engenharia de Segurança do Trabalho pelo Centro Universitário Senac
    - Pós-Graduanda em Sistema de Gestão Integrado pela Pontifícia Universidade Católica - PUC