Cateterismo cardíaco em bebês prematuros e baixo peso com cardiopatia congênita

Tempo de leitura: 6 minutos

Dra. Julianne Avelar
Coordenadora do Serviço de Cardiologia Pediátrica do Hospital Sepaco

Devido ao avanço tecnológico e ao conhecimento na área da medicina, muitos bebês que antigamente nasciam antes do tempo e morriam, hoje estão sobrevivendo. Mesmo com um desenvolvimento dentro do esperado, as crianças prematuras necessitam de um olhar mais atento. E por isso a necessidade cada vez mais crescente de Centros com profissionais especializados e treinados para o suporte de bebês prematuros e principalmente bebês prematuros com cardiopatias congênitas. Trata-se de um desafio permanente os cuidados com estes recém-nascidos.

Prematuridade e doenças cardíacas congênitas (DCC) são importantes causas de morbidade e mortalidade entre crianças, e as duas condições frequentemente coexistem. Um grande estudo multicêntrico demonstrou mortalidade significativamente maior entre crianças com muito baixo peso ao nascimento (<1500g), nascidos com 29 semanas de idade gestacional e cardiopatia grave, em comparação com bebês semelhantes sem cardiopatia.

Frequentemente, o objetivo do atendimento é a estabilização médica até que o reparo cirúrgico possa ser feito com segurança. Existem muitas dúvidas, incluindo se um bebê prematuro pode tolerar a fisiologia alterada da doença cardíaca, se a cirurgia cardíaca é possível em bebês muito pequenos e, em caso afirmativo, se o bebê prematuro pode sobreviver a tal cirurgia.

Portanto, intervenções baseadas em cateterismo cardíaco como uma opção paliativa e/ou terapêutica têm sido cada vez mais utilizadas para melhorar o resultado destes casos de alto risco quando a correção cirúrgica definitiva não é possível ou correções que em alguns casos podem ser feitas via hemodinâmica.

Uma das cardiopatias congênitas mais comuns nessa faixa etária é a Persistência do Canal Arterial (PCA), que trata-se de uma manutenção da conexão fetal (canal arterial) entre a artéria pulmonar e a aorta após o nascimento, tipicamente resultando em um fluxo contínuo da esquerda para a direita. A presença de um PCA além da primeira semana de vida ocorre em até 50% dos bebês prematuros e em mais de 80% dos prematuros gravemente com extremo baixo peso ao nascer (<1000 g). Isso foi associado a um risco aumentado de desenvolver enterocolite necrosante, doença respiratória crônica, hemorragia pulmonar, hemorragia intraventricular e morte.

Atualmente, surgiram inúmeras evidências clínicas sugerindo que o fechamento por cateterismo de PCA pode ser realizado com segurança e eficácia em bebês prematuros, tão pequenos quanto 700g ou menos. O fechamento transcateter do PCA para bebês prematuros é uma alternativa menos invasiva do que a ligadura cirúrgica e que deverá ser adotada nos serviços mais avançados do mundo.

Recentemente realizamos no nosso Serviço, dois procedimentos em recém-nascidos via cateterismo intervencionista com bom resultado:

1- Atriostomia por balão (procedimento de Rashkind) em criança de 1420g em laboratório de hemodinâmica com sucesso;

2- Fechamento percutâneo de canal arterial em bebê de 1100g também no laboratório de hemodinâmica com sucesso.

Além disso, diversos outros procedimentos podem ser realizados via hemodinâmica em recém-nascidos prematuros e baixo peso como: valvoplastia pulmonar, valvoplastia aórtica, stent na via de saída do ventrículo direito, stent no canal arterial. Casos bem selecionados para intervenções adequadas têm bons resultados a curto e longo prazo.

O Hospital Sepaco possui uma UTI neonatal/pediátrica com profissionais altamente capacitados para este cuidado, tanto equipe multiprofissional, quanto equipe médica (intensivistas, anestesistas, cardiologistas pediátricos, hemodinâmica intervencionista e cirurgia cardíaca infantil). É necessário um esforço colaborativo destas equipes para gerenciar o curso perioperatório. As técnicas e níveis de habilidade estão melhorando continuamente, tornando-se cada vez mais seguro a correção de malformações cardíacas e quando possível minimamente invasivas nessa população tão frágil.

Imagem do procedimento de Rashikind (abertura por cateterismos de comunicação interatrial). Foto: Germana Cerqueira/Arquivo Pessoal

Fechamento percutâneo de canal arterial em prematuros com a prótese Amplatzer Piccolo ocluder: posicionamento da prótese em canal arterial de bebê prematuro. Imagem do procedimento de Rashikind (abertura por cateterismos de comunicação interatrial). Foto: Germana Cerqueira/Arquivo Pessoal

Fechamento percutâneo de canal arterial em prematuros com a prótese Amplatzer Piccolo ocluder: desenho esquemático da prótese bem posicionada em canal arterial. Foto: Germana Cerqueira/Arquivo Pessoal

Sobre o autor

  • - Coordenadora do Serviço de Cardiologia Pediátrica do Hospital Sepaco
    - Cardiologista Pediátrica pelo Incor - HCFMUSP
    - Ecocardiografista Pediátrica e Fetal pelo Hospital da Beneficência Portuguesa