A avaliação do médico residente sob uma nova perspectiva

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Fábio Alexandre Paiva Freitas
Da redação da Revista Scientia

Desde de 2020, nossa instituição
vem assumindo um compromisso
com a formação de uma nova geração
de médicos especialistas por meio
dos Programas de Residência Médica
(PRM), uma modalidade de ensino
de pós-graduação em nível de
especialização sendo que suas
atividades não representam
apenas a busca por um
aperfeiçoamento profissional,
desde o treinamento na especialidade,
principais patologias, rotinas
e técnicas, seguindo com a
internalização de preceitos,
normas, o agir com ética e o
desenvolvimento de um espírito
crítico que permita tomar
a melhor decisão para o paciente
ou população [1].

Mas, como saber se um médico
residente (MR) está adquirindo
o conhecimento e as competências
necessárias para assumir seu papel?

A Comissão Nacional de Residência
Médica (CNRM), em sua resolução
nº 04 de 2023, orienta a respeito
da necessidade de serem feitas
avaliações regulares, devendo
estas serem somativas e formativas,
contemplando o conhecimento
e as habilidades técnicas aplicadas,
tomada de decisão, profissionalismo,
comunicação, comportamento ético,
relacionamento com a equipe de saúde,
com o paciente e familiares,
compreensão do sistema e seu
papel junto a este [2].

Megale e colaboradores [3] reforçam
a importância da avaliação do estudante
da área médica, ao descrever que essa
deve ser indissociável do processo
educacional e aplicada em vários
momentos do curso, sendo reconhecida
pelo estudante como um norteador
do seu progresso. Ela também permite
ao educador e educando verificarem
se os objetivos educacionais planejados
estão se desenvolvendo no rumo traçado,
pontuando a necessidade de intervenções
quando ocorrerem distorções. Deve ser
bem elaborada, estruturada e eficaz,
verificando a qualidade do ensino, o
alcance dos objetivos propostos,
assegurando a validade e fidedignidade
dos métodos utilizados [4].

Epstein descreve o objetivo da avaliação
sob quatro pontos: obter o melhor
da capacidade da pessoa em formação;
promover motivação e direcionamento
para o aprendizado; proteger os usuários
do sistema, identificando profissionais
incompetentes; indicar candidatos a
treinamentos complementares [5].
Uma avaliação bem conduzida possibilita
a identificação de pontos fortes e fracos,
abrindo o caminho para oportunidades
de melhoria, trazendo uma modificação
de atitudes e comportamentos, tanto
dentro da instituição durante as atividades,
como em seus momentos de estudo,
revisão e reflexão [1]

Os modelos de avaliação tradicionais
estão baseados na perspectiva que
uma prática profissional de excelência
só pode ser obtida por meio do
domínio de um conjunto de
conhecimentos teóricos [6].

Por sua vez, conceitos mais atuais não
se restringem aos campos teóricos
e cognitivo, mas buscam avaliar se o
estudante sabe aplicar os conhecimentos
e executá-los na vida real. O American
Accreditation Council for Graduate
Medical Education (ACGME) e The
Royal College of Physicians and
Surgeons of Canada (RCPSC) têm
proposto uma alteração no currículo
médico da pós-graduação, tendo
como regra o profissionalismo
e baseando-se em competências
divididas em seis domínios
inter-relacionados: conhecimento
médico, cuidado ao paciente,
profissionalismo, habilidade de
comunicação e interpessoal,
aprendizado e aprimoramento
com base na prática e práticas
baseadas em sistemas [5,7].

O Ministério da Educação brasileiro,
por meio da Comissão Nacional
de Residência Médica (CNRM),
publicou recentemente uma
resolução que dispõe sobre os
procedimentos de avaliação dos
MR trazendo esse olhar mais
abrangente sobre o processo;
ela orienta que a avaliação
deve ser sob um olhar mais
holístico, passando por aspectos
cognitivos, comportamentais,
afetivos e atitudes, de forma
que não apenas o preceptor
ou supervisor realize a avaliação,
mas que se busque a avaliação
dos seus pares, equipe multiprofissional
e o olhar do paciente diante
do profissional que o atendeu
e está em formação [2].

Essa mudança de olhar sobre a
formação dos profissionais que
prestam cuidados de saúde está
relacionada às crescentes exigências
de prestação de cuidados de saúde
eficientes, com boa relação
custo-eficácia, sendo baseada
em resultados, mantendo os
preceitos éticos, melhores
práticas e o respeito para
com as equipes e tendo
como o centro das atenções
o paciente, o consumidor
do cuidado [8].

A Comissão de Residência Médica
(COREME) do Sepaco vem buscando
desenvolver ferramentas de avaliação
fundamentadas em bons referenciais
teóricos, seguindo a legislação vigente,
de forma a avaliar o MR sob esta nova
perspectiva, para que possamos
entregar um profissional melhor
preparado e capaz de assumir seu
papel, aprimorar sua prática, repensar
o sistema no qual está inserido
e tendo o paciente no centro
do processo.

Referências bibliográficas

  1. Bastos CAH, Botelho NM, Portella MB,
    Cristina Lisboa do Nascimento C.
    Aplicação do Método de Avaliação
    360º em Residentes Médicos de
    Ginecologia e Obstetrícia. 2019 (34)
  2. Ministério da Educação (Brasil).
    Resolução Comissão Nacional de
    Residência Médica No 04 /2023,
    de 1º de novembro de 2023.
    Dispõe sobre os procedimentos
    de avaliação dos Médicos Residentes
    e dá outras providências. Diário
    Oficial da União No 203, de
    25/10/2023, seção 1, páginas 23-26
  3. Megale L, Gontijo ED, Motta JAC.
    Avaliação de competência clínica
    em estudantes de medicina
    pelo Miniexercício Clínico
    Avaliativo (Miniex). Rev bras
    educ med. 2009 33(2)
  4. Auto, B de S D; Vasconcelos, MVL
    de; Peixoto, A L V de A. Clinical
    skills assessment and feedback
    in pediatric residency. Rev bras
    educ med. 2021;45 (2)
  5. Epstein, R M. Assessment in
    Medical Education. The New
    England Journal of Medicine.
    2007; 356: 387-96
  6. Romão G S, Quintana S M,
    Peixoto R A C, Sá M F S de.
    Avaliação de residentes em
    ambientes da prática clínica.
    FEMINA. 2020; 48(1): 31-37
  7. FERNANDES, C. R. et al. Currículo
    baseado em competências na
    residência médica. Revista
    Brasileira de Educação
    Médica, v. 36, n. 1, p. 129–136,
    jan. 2012.
  8. Busari J, Stammen L, Gennissen
    L, Moonen R. Evaluating medical
    residents as managers of care:
    a critical appraisal of assessment
    methods. Adv Med Educ Pract.
    2014;5:27-37

Sobre o autor

  • - Enfermeiro de Ensino e Pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa no
    Hospital Sepaco
    - Bacharel e licenciado em Enfermagem pela Universidade Federal do Paraná
    - Aprimoramento em Saúde Baseada em Evidências pelo Hospital Sírio Libanês
    - Especialista em Enfermagem em Emergência pelo Hospital das Clínicas da FMUSP
    - Especializando em Gestão e Engenharia da Qualidade pela Poli-USP