Adaptações da brinquedoteca no período da pandemia de Covid-19

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Bruna Karina da Silva
Brinquedista do Hospital Sepaco

Michelle Cristina Ferreira
Gestora de Enfermagem da Pediatria

A internação hospitalar na infância é um processo que pode causar traumas e trazer medos e inseguranças tanto no paciente quanto no seu responsável. Para o responsável, é fundamental explicar e deixar clara cada etapa do tratamento. Mas, para o paciente, essa transparência deve acontecer de outra forma, com a adequação da linguagem para cada faixa etária e o auxílio da criação de um ambiente mais aconchegante e menos agressivo para os pequenos. E é aqui que entram em cena alguns elementos bastante conhecidos entre nós: os brinquedos.

A Lei 11.104, de 21 de março de 2005, decreta que hospitais com atendimento pediátrico tenham uma brinquedoteca. No Hospital Sepaco, temos um espaço educativo e interativo com brinquedos selecionados por faixa etária, para que o paciente possa projetar no brincar os seus sentimentos, pensamentos e fantasias.

Mas enquanto os brinquedos contribuem para minimizar impactos emocionais e desconfortos causados pela hospitalização, a pandemia provocada pela COVID-19 trouxe diversas restrições e mudanças de comportamento, obrigatórias para evitar a disseminação do vírus que provoca a doença. Uma das alterações mais impactantes talvez tenha sido o distanciamento social.

O ser humano é um ser social, e isso é necessário para a sua sobrevivência, desenvolvimento e utilização plena de todas as suas capacidades. “É na relação com o outro que se dá o desenvolvimento emocional e comportamental. Com a pandemia, tivemos o fechamento da brinquedoteca e isso deixou o brincar mais longe e impediu a socialização com outras crianças, trazendo impactos para o processo de hospitalização”, afirma Valentina Santillan, psicóloga hospitalar do Hospital Sepaco.

O isolamento social em ambiente de internação hospitalar é um elemento desafiador para todos os envolvidos no procedimento; e na Pediatria, em especial, foi necessário reinventar muitos dos processos, criando novas rotinas e possibilidades. Para se adaptar a essa nova realidade, a brinquedoteca do Hospital Sepaco passou a seguir um novo formato de atendimento, auxiliando na interação social responsável da criança e diminuindo o medo, a ansiedade e o estresse, mantendo o processo de humanização.

O esquema permite que os pacientes possam ser atendidos em atividades presenciais individualizadas e/ou por meio de empréstimo de brinquedos. Para isso, eles devem ter entre 8 meses e 13 anos e não estar em isolamento provocado pela COVID-19. As duas atividades levam em consideração a idade, o histórico de saúde e a subjetividade de cada criança. Os atendimentos presenciais duram, em média, de 50 a 60 minutos. Além disso, as crianças em isolamento por causa da COVID-19 recebem kits de pintura contendo desenhos e giz de cera que ficam com elas durante a internação e posteriormente são levados para casa na alta. No término do atendimento individualizado, o local é totalmente higienizado. O mesmo acontece depois da devolução dos brinquedos, e cada item só volta a ficar disponível após a higienização.

A brinquedista responsável pelo espaço, Bruna Karina da Silva, explica que o período exigiu mudanças na rotina e no horário de funcionamento do espaço. “No início fizemos eventos a distância com temáticas lúdicas e nessa etapa aprendemos muito e também compartilhamos novas experiências com as crianças e seus familiares. Foi muito gratificante ver em alguns momentos o quarto do paciente se transformando em cabana, festa junina itinerante, ateliê de pinturas e também minibrinquedotecas com os jogos mais solicitados pelas crianças, como pescaria, boliche, projeção de casa de pássaros, confecção de brinquedos com materiais reciclados e bijuterias, entre outros”, afirma.

A brinquedoteca do Hospital Sepaco também recebe algumas ações especiais, como as visitas de animais de estimação (PETs), organizadas pela ONG Patas Therapeutas e retomadas após a redução dos casos de COVID-19.

Essa atividade atua na redução do estresse e da ansiedade gerados pela internação hospitalar, contribuindo para a sensação de prazer, de forma organizada e mantendo todos os protocolos de distanciamento e demais medidas preventivas de propagação da COVID-19. Essas ações são parte da essência do processo de humanização. Essa questão ficou bastante em foco por causa da pandemia e precisou ser reinventada com o avanço da COVID-19, fazendo com que deixássemos de nos relacionar da maneira que estávamos acostumados. A preocupação do Sepaco em conjunto com a Pediatria foi manter o processo e, assim como foi feito com diversos outros processos, realizar as adaptações necessárias, por serem reconhecidos os benefícios dela tanto na recuperação do paciente quanto para a família.

Brinquedoteca do Hospital Sepaco.


Sobre os autores

  • Brinquedista do Hospital Sepaco
    - Pós-graduada em Educação Especial com Ênfase em deficiência Intelectual - Faculdade Metropolitana de São Carlos – FAMESC
    - Graduada em Pedagogia - Universidade Metropolitana de Santos

  • Gestora de Enfermagem da Pediatria
    - Especialista em Pediatria e Neonatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein
    - Graduação em Enfermagem pela Universidade Cruzeiro do Sul