Atuação do fisioterapeuta no centro obstétrico: assistência humanizada ao parto

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Prof° Dra. Cíntia Johnston
Coordenadora do Serviço de Fisioterapia e Terapia
Ocupacional Do Hospital Sepaco

Letícia De Azevedo Ferreira
Fisioterapeuta no Centro Obstétrico do Hospital Sepaco

O Serviço de Fisioterapia Triplicare Saúde iniciou as suas atividades assistenciais no Centro Obstétrico do Hospital e Maternidade Sepaco em 19 de outubro de 2020. Nestes 15 meses de atuação, a equipe vem agregando conhecimentos científicos e habilidades na assistência ao parto natural. A equipe de fisioterapia atua como um agente facilitador para que a mulher vivencie o parto de forma participativa e ativa, contribuindo para a humanização do parto.

A participação do Hospital e Maternidade Sepaco no Projeto Parto Adequado busca implementar ações assistencias com base em evidências científicas, visando incentivar o parto vaginal e estimular a segurança e o empoderamento da mulher no parto e nascimento do bebê. Os benefícios da atuação do fisioterapeuta no parto são conhecidos e incluem: manejo da dor por meio de intervenções não farmacológicas, diminuição das doses e/ou uso de analgesia farmacológica, contribuição para a autonomia da paciente, na redução do tempo de trabalho de parto, auxílio na apresentação fetal, melhor experiência e satisfação no parto e repercussões positivas nos parâmetros fisiológicos e respiratórios da mulher.

O uso dos métodos não farmacológicos para o alívio da dor no trabalho de parto promove benefícios diversos para a parturiente e possui poucas contraindicações ou efeitos adversos para o binômio materno-fetal. A dor durante o trabalho de parto transita e evolui de acordo com a fase do parto, possui interferências do estado emocional, assim como de fatores ambientais. A escolha do recurso a ser utilizado ou, a associação deles, deve considerar os aspectos individuais e o escore da intensidade da dor (o qual varia de zero a 10 pontos, sendo quanto maior o número, maior a intensidade da dor relatada) pela Escala Visual Analógica de Dor. A utilização de métodos não farmacológicos e o auxílio no manejo da dor podem postergar (positivamente) a introdução de métodos farmacológicos e, em alguns casos, contribuir para o menor uso de fármacos.

Dentre os recursos disponíveis no Centro Obstétrico, os quais são indicados e aplicados pelo fisioterapeuta, estão: instruções sobre estratégias respiratórias com o objetivo de minimizar o estresse para a parturiente; banho de aspersão (chuveiro) e termoterapia local com o objetivo promover um relaxamento muscular; massagem visando promover a diminuição da fadiga muscular, a qual tem ação analgésica, sedativa, aumenta a consciência corporal e agrega benefícios emocionais; o TENS (eletroestimulação nervosa transcutânea), que emite uma corrente elétrica nas regiões toracolombar e sacral sobre os nervos que conduzem os estímulos dolorosos para o útero, a cérvice e o períneo, contribuindo para a redução da dor e desconforto local; acupressão de pontos específicos ao longo do corpo para alívio de dor, fadiga e tensão.

O entendimento dos aspectos biomecânicos e osteoneuromusculoesqueléticos presentes no mecanismo do trabalho de parto permite melhorar a assistência e facilitar as condições para o parto vaginal. A movimentação ativa, os posicionamentos funcionais e as posições verticais podem oferecer à parturiente um melhor manejo da dor, uma evolução da fase ativa, assim como ser um recurso para evitar a fadiga materna, que é um fator dificultador na evolução do trabalho de parto normal. Promover a movimentação corporal de maneira adequada e direcionada exige uma avaliação individualizada e o auxílio da equipe multiprofissional envolvida na assistência à mulher.

No Brasil e, especialmente no estado de São Paulo, o Hospital Maternidade Sepaco foi pioneiro em implementar a Fisioterapia Obstétrica 24 horas junto da equipe multiprofissional no Centro Obstétrico (CO): no período de 15 meses, 1.300 mulheres receberam assistência de fisioterapia neste CO. A atuação do fisioterapeuta na assistência durante o trabalho de parto ainda é pouco conhecida pelos profissionais de saúde e gestantes, sendo necessárias mais inciativas para a sua viabilização e ampliação da assistência a gestante em todas as fases (pré-parto, durante o parto e pós-parto).

Da esquerda para a direita: Vanessa C. W. P. de Godoy, Gabriella Fernandes, Cíntia Johnston e Letícia de A. Ferreira.

Referências bibliográficas

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Sobre os autores

  • -Coordenadora do Serviço de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Hospital Sepaco
    -Pós-doutorado em Pneumologia pela EPM/UNIFESP
    -Doutora em Saúde da Criança/Adolescente e Mestre em
    -Neurociências/Neurocirurgia pela FAMED/ PUC-RS

  • -Fisioterapeuta no Centro Obstétrico do Hospital Sepaco
    -Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP
    -Especialista em Saúde da Mulher pelo HC-FMUSP