Brinquedo terapêutico no cuidado de Enfermagem da criança hospitalizada
Leticia Lemes de Oliveira
Enfermeira Administrativa da Pediatria do Hosp. Sepaco
Michelle Cristina Ferreira
Enfermeira Instrutora de Treinamento da Pediatria do Sepaco
O período de hospitalização na maioria das vezes é um processo que vem acompanhado de um turbilhão de sensações e emoções. Para um adulto, a situação na maioria das vezes é conhecida, seja por ter sido vivenciada pela própria pessoa ou por parentes e amigos. Por outro lado, na Pediatria encontramos um cenário totalmente diferente.
Quando uma criança é internada, ela se depara com situações novas e totalmente fora da rotina vivenciada desde o momento do nascimento. Isso modifica hábitos e coloca elementos na rotina totalmente desconhecidos, promove a separação dos familiares e amigos, insere no círculo de contatos pessoas “estranhas” que entram no leito para a realização de procedimentos invasivos e dolorosos, gerando sentimentos como medo, angústia e ansiedade, demonstrados pela criança na maioria das vezes através de choro, irritabilidade, tristeza ou até mesmo isolamento.
Para minimizar o estresse, entra em cena um velho conhecido: o brincar. Esse ato tão simples envolve a criança em um mundo de magia e fantasia, distanciando-a da realidade hospitalar e atuando como etapa auxiliar e coadjuvante na amenização dos efeitos relacionados ao trauma da hospitalização.
Em outro âmbito, é com o ato de brincar que a equipe de Enfermagem atua na humanização do cuidado e na inserção da criança e de seus familiares em seu próprio tratamento por meio da utilização de uma técnica chamada “Brinquedo terapêutico”. Esse método é responsável por aproximar a criança da realidade em que ela está inserida naquele momento e utiliza um brinquedo estruturado e confeccionado contendo os dispositivos médicos usados pela criança durante a hospitalização. Isso permite que o pequeno paciente e seus familiares sejam preparados e também informados sobre procedimentos terapêuticos que serão realizados e/ou dispositivos que permitam a capacitação ao autocuidado e a preparação para novas condições de vida.
Para demonstrar a efetividade desse método, a seguir vamos conferir o relato de uma experiência relacionada a um caso vivenciado pela enfermeira Elaine de Moraes, da Unidade de Internação Pediátrica. Ela percebeu as necessidades da criança e trouxe uma boneca terapêutica apelidada carinhosamente pela equipe como “Gabizinha”.
Escolhi esta paciente para presentear com a boneca terapêutica, pois durante um procedimento percebi a sua fragilidade: ela mostrava-se muito agitada, chorosa e desesperada. Como profissional da unidade pediátrica e mãe de menina com idade aproximada, fiquei preocupada.
Entendi que precisava tornar os procedimentos menos traumáticos e fazê-la reconhecer-se e compreender a necessidade do acesso venoso, da traqueostomia e da sonda enteral. Sem previsão para retirar a traqueostomia, devido ao granuloma e à paralisia de cordas vocais, não gostaria que tal item a deixasse ainda mais traumatizada.
Selecionei uma boneca vestida de fada para que ela entendesse que até os seres mágicos podem ser diferentes. Pedi ajuda na equipe e fui atendida pela Técnica de Enfermagem e artesã Anna Carolina Carrion Cavalheiro, que facilmente deixou a “Gabizinha” bastante parecida com a paciente!
Pouco antes da entrega, expliquei a função do item para a mãe: a filha deveria expressar as ansiedades e medos por meio da boneca e entender a necessidade dos dispositivos e procedimentos. Depois, encorajei a mãe a também utlizar o brinquedo, inserindo seringas na sonda e fazendo o procedimento de aspiração para que a paciente compreendesse o processo. Ela aceitou a ideia e nós duas ficamos emocionadas!
Ela adorou a surpresa! Ao longo dos dias, começamos a vê-la brincando com a boneca e entendemos que o objetivo foi alcançado, contribuindo para diminuir os traumas de uma internação longa com repetidos procedimentos.

Referências bibliográficas
1 – MALAQUIAS, T. S. M. BAENA, J. A. CAMPOS, A. P.S. MOREIRA, S. R. K. BALDISSERA, V. D. A. HIGARASHI, I. H. O uso do brinquedo durante a hospitalização infantil: saberes e práticas da equipe de enfermagem. Paraná, 2014.
2 – RAINATO, M. S. ROCHA, E. L. FERRARI, R. A. P. Benefícios da utilização do brinquedo durante o cuidado de enfermagem prestado à criança hospitalizada.