Como aproveitar a piscina no calor sem deixar de garantir a segurança das crianças?
Talita Gongora Lodi Rizzini Holtel
Coordenadora Ensino em Pediatria e
Supervisora do Programa de Residência
Médica em Pediatria do Hospital
e Maternidade Sepaco
Quando chegam as férias escolares
ou simplesmente os fins de semana
ou feriados, a diversão fica garantida
ao aproveitar a piscina com as crianças.
Em geral, as crianças são cheias de
curiosidade, a piscina costuma atrair
muito a atenção e as brincadeiras
de baixo d’água são as prediletas!
Podem ser os pequenininhos, que
ficam na parte rasa fazendo aquela
bagunça divertida, ou os mais
crescidos, que já sabem dar suas
braçadas e se aventuram pegando
brinquedos no fundo da piscina.
Independentemente da idade das
crianças, esses são momentos únicos
e que ficam marcados na memória
para sempre.
Porém, não podemos deixá-las
brincando sozinhas nem descuidar
um segundo sequer. As crianças
ainda não têm discernimento
necessário para aproveitar a
piscina sem supervisão. Em
alguns casos, não têm altura
para ficar de pé dentro da água,
por exemplo, sendo essencial
a presença de um adulto
supervisionando as atividades
na piscina o tempo todo.
Deixar as crianças sozinhas na área
da piscina, mesmo que por poucos
minutos, pode resultar em acidentes
graves. Elas podem cair, bater a
cabeça, se ferir ou, na pior das
hipóteses, se afogar.
Para que essas brincadeiras sejam
realmente divertidas, é preciso
alguns cuidados, tanto na hora
de aproveitar a água, quanto
nos momentos em que não
estão aproveitando juntos
a área externa da casa, piscina,
praia ou clube.
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) estima que haja
mais de 236.000 mortes por
afogamento todos os anos
no mundo, estando entre
as dez principais causas de
morte de crianças entre
5 e 14 anos. No Brasil, o
afogamento é a 1ª causa
de morte na faixa entre
1 e 4 anos, a 2ª causa
entre 5 e 9 anos e a 3º
entre 10 e 14 anos de idade.
Outra faixa etária de importância
é a entre 15 e 19 anos. Além da
morte, o afogamento pode
causar sequelas graves,
principalmente neurológicas.
Anatomicamente, as crianças
pequenas têm maior risco de
afogamento por apresentarem
a cabeça e os membros superiores
como as partes mais pesadas
do corpo. Por isso, perdem
o equilíbrio com frequência
ao se inclinarem para frente,
além de também com frequência
não conseguirem se erguer.
Isso faz com que pequenas
quantidades de água em baldes,
bacias, banheira, vasos sanitários,
seja suficiente para que ocorra
um afogamento. Lembre-se
também que elas não têm
maturidade nem experiência
para sair de uma emergência.
Já nas crianças maiores
e adolescentes, o afogamento
está relacionado a comportamentos
de risco: desafios em grupo,
uso de álcool ou demais drogas
ilícitas, nadar afastado e sozinho
ou esportes radicais.
Em cerca de 89% dos casos de
afogamento, o mesmo ocorreu
na ausência de um adulto
responsável que esteja a um
braço de distância da criança
na proximidade da água.
A principal forma de evitarmos
mortes por acidentes é a
prevenção, que neste caso
depende da figura fundamental
do cuidador. O adulto responsável
por supervisionar a criança em
ambiente aquático deve prestar
atenção na atividade do pequeno,
não tendo outras responsabilidades,
sem distrações como uso do
celular ou se distanciar do
local por qualquer período.
O afogamento está entre uma
das principais causas de morte
em crianças e adolescentes.
Saiba como garantir a segurança
dos pequenos nos ambientes
aquáticos.
Mas, quais são as prevenções
necessárias para garantir a
segurança na piscina? Como
garantir que os pequenos
estejam protegidos na hora
de aproveitar a piscina?
A seguir, apresentamos algumas
medidas preventivas que ajudam
a garantir o uso seguro para
toda a família. Confira:
Cerque a área da piscina com
grade de proteção
Usar uma cerca para piscina
é a primeira dica de uma série
de recomendações do Conselho
Científico de Segurança da
Criança e Adolescente da
Sociedade Brasileira de Pediatria
De acordo com o órgão,
a grade de proteção deve ter,
no mínimo, 1,20 m de altura.
Além disso, deve ser trancada
com travas que não permitam
uma criança abrir o portão com
facilidade ou ter sistema de
fechamento automático. Dessa
forma, quando estiver longe
de seu campo de visão, você
saberá que, perto da piscina,
a criança não estará.
Converse com seus filhos e
prepare-os para o lazer na piscina
A razão pela qual as crianças
não têm receio ao redor de uma
piscina é justamente por não
saber do perigo ao qual elas
podem estar sujeitas.
Por isso, é papel dos pais conversarem
com os pequenos sobre o assunto,
tentar explicar de uma forma que
as crianças entendam que é
seguro para elas transitarem
ao redor da piscina, desde que
estejam acompanhadas de um
adulto e a pedirem ajuda quando
sentirem medo. Assim que possível,
ensine as crianças a nadarem,
é importante investir em aulas
de natação desde bebês. Essa
atividade, além de ser uma
excelente estimulação sensorial
e motora, é também um importante
método para proporcionar mais
segurança aos pequenos.
Invista no material adequado para
a área da piscina. Para promover
a segurança na piscina para crianças
(e mesmo para os adultos), o
piso do entorno e a escada da
piscina devem ter revestimentos
adequados. O material deve ser
não apenas antiderrapante, para
evitar quedas e escorregões, como
também realizar arredondamento
das quinas ou materiais emborrachados
que diminuem os impactos.
Faça a manutenção da piscina
sem a presença das crianças na área
Faça a manutenção de sua piscina
quando ninguém estiver dentro
d’água, sobretudo as crianças.
Muitas pessoas têm o hábito de
deixar a motobomba ligada
enquanto usam a piscina. No entanto,
essa prática não é recomendada;
afinal, o ralo pode sugar cabelos,
boias, roupas ou até mesmo algum
membro do corpo das crianças.
Por isso, o correto é que o processo
de filtração seja realizado com a
piscina sem nenhuma pessoa dentro.
Isso vale para a aplicação do cloro,
que também não pode ser feita
enquanto o local está sendo usado
pelos banhistas.
Tenha tampas antiaprisionamento
do sistema de aspiração
O sistema de aspiração da piscina
é o que leva a água para o filtro e
o trocador de calor. E a realidade é
que, quando não estão protegidos,
eles podem representar riscos para
os banhistas. Afinal de contas, a
aspiração é bastante forte para que
ela dê conta de todo o volume da
piscina. Sem as tampas antiaprisionamento,
os cabelos podem ficar presos, o que,
nos piores casos, leva ao afogamento.
Tenha o material de segurança adequado
Crianças em ambiente aquático
devem sempre usar colete salva-vidas
apropriado, por recomendação da
Sociedade Brasileira de Pediatria
e a Sociedade Brasileira de
Salvamento Aquático garantindo
uma posição onde a cabeça e o
rosto fiquem para fora da água.
Boias ou outros dispositivos
de flutuação não são confiáveis
ou recomendados. Também não são
recomendadas as boias “tipo pneu”,
pois elas podem escorregar
do corpo da criança ou mesmo
virar, levando ao afogamento.
Cuidado com as brincadeiras
inadequadas ou perigosas
É importante ter noção de que
movimentos bruscos podem não
dar certo com os pequenos por
perto. Além de acontecer um
imprevisto, eles podem querer
reproduzir os movimentos em
outro momento, mas sem ter a
presteza de um adulto para isso.
Muitas pessoas têm o hábito de
brincar de dar “caldinho” ou
colocar os pequenos nos ombros
para se divertirem na piscina.
Correr ao redor da piscina ou
jogar o coleguinha na água
também são atividades bem
corriqueiras. Essas brincadeiras,
no entanto, não são recomendadas
e comprometem a segurança
das crianças na piscina.
Use e abuse do protetor solar
Esse é sem dúvidas o cuidado número
1 para quem quer apreciar um dia à
beira do mar ou piscina, não só para
a criançada, mas para toda a família.
O protetor solar é muito importante
para proteger a pele dos pequenos
dos efeitos causados pela exposição
direta da radiação solar, além de
prevenir queimaduras e manchas.
É muito importante que o produto
seja reaplicado a cada duas horas,
ou sempre que as crianças tiverem
contato com a água. Para os menores
de 6 meses, atenção ao uso do
protetor adequado, na dúvida,
procure seu pediatra.
Leve uma bolsa com itens para as crianças
Além do protetor solar ideal
para a pele da criança, leve
uma bolsa com todos os itens
que as crianças vão precisar
durante o dia na praia ou piscina,
como chapéu, óculos escuros,
uma troca de roupa, chinelos
e toalhas.
Reforce os cuidados com a alimentação
A criançada adora aquele queijinho
assado, o milho-verde com
manteiga, o espetinho de
camarão… entre outras tantas
delícias! Afinal de contas, como
resistir a tanta comida boa, não
é mesmo?! No entanto, é preciso
ter muito cuidado com a alimentação,
especialmente com as crianças,
já que alimentos e bebidas
expostos ao calor e malconservados
podem causar intoxicações. Pensando
nisso, a dica é sempre levar
lanchinhos saudáveis, sanduíches,
frutas e sucos naturais em bolsas
térmicas. Dessa forma, você vai
matar a fome da criançada, sem
renunciar a uma alimentação
nutritiva e deliciosa.
Beber água com frequência é importante
As crianças necessitam de hidratação
constante, já que são mais suscetíveis
a desidratação, pois a superfície
corpórea é proporcionalmente
maior do que dos adultos e nos
dias ensolarados ocorre com
maior frequência. Por isso,
sempre ofereça água e sucos
naturais a cada duas horas,
ou sempre que a criança sentir
sede.
Utilize pulseirinhas de identificação
As crianças ficam muito animadas
na praia, sítios ou clubes, por isso,
as pulseiras de identificação são
sempre bem-vindas para evitar o
risco delas se perderem, principalmente
em épocas de altas temporadas.
Uma dica é sempre dar preferência
por pulseiras de materiais impermeáveis
para garantir ainda mais a segurança
dos pequenos.
Para evitar acidentes, a forma
mais simples de driblar as
preocupações é sempre
acompanhar a criança quando
ela entrar no mar ou piscina,
mesmo que ela já tenha
aprendido a nadar.
Outras medidas devem ser implementadas
para prevenir o afogamento
- Não deixe baldes, bacias ou outros
recipientes com água ao alcance de
crianças menores de 5 anos. Piscinas
portáteis devem ser esvaziadas e
desmontadas após o uso; - Não deixe atrativos, como brinquedos,
próximos de reservatórios ou
recipientes de água; - Cuidado com objetos de modismo
(por exemplo, Caldas de sereia),
estes são responsáveis por vários
afogamentos; - Aprenda e treine as pessoas
responsáveis por cuidar da criança
(professoras, babás, avós etc.)
a nadar, a resgatar de forma
segura em caso de afogamento
e a realizar manobras de
reanimação se necessário; - Ensine as crianças e adolescentes
a respeitarem as placas de
proibição de praias e piscinas,
e sempre seguir as orientações
do salva-vidas; - Permaneça atento, se desconecte,
deixe o celular de lado e evite
o excesso de álcool.
Uma piscina segura é o local perfeito
para aproveitar os dias de folga com
a família. Quando tudo está sob
controle, não existirão motivos para
se preocupar: basta ocupar o seu
tempo com a diversão. Por isso,
ensine os seus filhos a brincar
sem correr riscos.
Com essas recomendações,
garantimos a segurança das
nossas crianças durante os
meses de calor, aproveitando
os ambientes aquáticos para
nos refrescarmos.

Crianças na piscina (Banco de Imagens – Adobe Stock)
Referências bibliográficas
• Sociedade Brasileira de Pediatria
(SBP). Disponível em:
https://www.sbp.com.br/especiais/pediatriaparafamilias/prevencaodeacidentes/afogamento/https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22732cNEspCrc_peq_nao_podem_ficar_sem_supervisao_em_piscina.pdf Acesso
em 10 de junho de 2024.