Cuidado centrado no paciente
Dra. Nathaly Nunes
Coordenadora Médica da UTI Adulto do Hospital Sepaco
Centros de saúde em todo o mundo têm se esforçado para tornar seus cuidados mais humanizados, e uma forma de operacionalizar essa ação é exercendo o chamado cuidado centrado no paciente. Esse termo é definido como “fornecer cuidados que respeitem e respondam às preferências, necessidades e valores individuais do paciente e garantam que os valores do paciente guie todas as decisões clínicas”. Para atingir esse objetivo, as oito dimensões do cuidado centrado no paciente, também conhecido como cuidado centrado na pessoa, definido pelo Picker Institute, devem ser cumpridas: 1) preferências do paciente, 2) informação e educação, 3) acesso ao cuidado, 4) conforto físico, 5) coordenação do cuidado, 6) continuidade e transição, 7) apoio emocional e 8) família e amigos. A figura 1 traz sugestões de como implementar cada uma dessas oito dimensões de cuidado.
Fica claro que esse cuidado centrado no paciente é desejável, mas que sua implementação não é simples e exige a atuação de uma equipe multidisciplinar. No ambiente hospitalar, ele torna-se mais desafiador em unidades críticas como a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Para o paciente de UTI, a vida mudou drasticamente e a participação no seu próprio cuidado pode ser um desafio devido às suas condições de saúde. E, por outro lado, o comprometimento e a sobrecarga da equipe com o paciente grave podem levar a uma desconexão do cuidado e ao paternalismo. A chamada “saúde paternalista” se concentra em uma abordagem com a máxima “eu sei o que é melhor para você”, enquanto o cuidado centrado na pessoa pode ser resumido como “o que posso fazer para melhorar sua saúde?”.
Os pacientes internados na UTI normalmente não são capazes de receber informações ou tomar decisões devido à gravidade de suas condições médicas ou à administração de medicamentos sedativos, deixando, assim, seus parentes como tomadores de decisão substitutos. Nesse cenário, é importante que os profissionais de saúde dessas unidades passem por uma educação contínua focada em habilidades comportamentais (soft-skills) envolvendo relacionamento e comunicação, para que o paciente e a família sejam vistos como uma unidade integrada e recebam o cuidado centrado.
Sendo assim, os profissionais devem responder ao sofrimento e às necessidades de pacientes e familiares com empatia, compaixão e sensibilidade inerentes ao cuidado centrado na pessoa. Eles precisam fazer mais do que simplesmente saber que as pessoas estão sofrendo, eles têm que aliviar esse sofrimento com o melhor de suas habilidades e devem ser capazes de estar lá como testemunhas e fornecer apoio através de sua presença. Por outro lado, a imersão excessiva com os pacientes da UTI e seus familiares ou uma sobrecarga de proxi-midade podem levar ao esgotamento emocional, e o cuidado empático é encontrar um equilíbrio delicado para cada profissional individual.
Em resumo, o cuidado centrado no paciente pode melhorar a satisfação dos pacientes e familiares e aprimorar a habilidade de comunicação e cuidado dos profissionais de saúde. Porém, no ambiente hospitalar, esse modelo carece de maior divulgação e apresenta maiores barreiras em comparação com a atenção primária de saúde.
Figura 1: Dimensões do cuidado centrado no paciente, por Picker Institute
Referências bibliográficas
• Easier Said Than Done: Healthcare Professionals’ Barriers to the Provision of Patient-Centered Primary Care to Patients with Multimorbidity. Int. J. Environ. Res. PublicHealth, 18, 6057; 2021.
• Joined forces in person-centered care in the intensive care unit: a case report from the Netherlands. van Mol et al. Journal of Compassionate Health Care, 3:5; 2016.
• Making care more patient centered; experiences of healthcare professionals and patients with multimorbidity in the primary care setting. Patient-centered care: what does it take? Dale Shaller Shaller Consulting, October 2007.