Entendendo o câncer de mama

Tempo de leitura: 9 minutos

Dra. Alba Valeria de Oliveira
Oncologista Clínica do Hospital Sepaco

Dr. Cid Buarque de Gusmão
Coordenador Departamento de Oncologia do Hospital Sepaco

O câncer de mama é o segundo tipo mais frequente no mundo e o mais comum nas mulheres, representando, de forma geral, 29,7% dos casos novos diagnosticados a cada ano.

O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que, em 2020, 66.280 casos novos de câncer de mama serão diagnosticados no Brasil. É importante lembrar que, apesar de raro nos homens, representa pouco menos de 1% dos casos de câncer no sexo masculino.

A probabilidade de uma mulher desenvolver câncer de mama ao longo da vida é de cerca de 12%, e, em termos epidemiológicos, em cada 8 a 10 mulheres, uma desenvolverá a doença ao longo de sua vida.

Os principais fatores associados a um risco aumentado de desenvolver o câncer de mama estão relacionados com as condições hormonais. Uma das funções do hormônio feminino é manter as células do ducto mamário em atividade, crescendo e produzindo leite. O hormônio feminino é, portanto, excitatório para as células da mama que, em certos casos, podem multiplicar-se desordenadamente, o que pode levar a mutações e ao aparecimento do câncer.

Fatores de risco
– Idade: o risco de desenvolver câncer de mama aumenta à medida que a mulher envelhece, sendo que a maioria se desenvolve em mulheres com mais de 50 anos. Relativamente raro antes dos 35 anos, acima dessa faixa etária sua incidência cresce rápida e progressivamente. A maioria dos casos de câncer de mama ocorre entre os 40 e 59 anos.

– História pessoal de câncer de mama: uma mulher que teve câncer de mama em um seio tem um risco maior de desenvolver um novo câncer em um dos seios.

– História familiar de câncer de mama: o câncer de mama pode ser mais frequente em mulheres cujas famílias apresentem as seguintes características:

A) Parentes de primeiro grau, como mães e irmãs, que foram diagnosticados com câncer de mama ou câncer de ovário, especialmente antes dos 50 anos: se dois parentes de primeiro grau desenvolveram câncer de mama, o risco é cinco vezes maior do que o risco médio.

B) Muitos parentes próximos que foram diagnosticados com câncer de mama ou câncer de ovário, especialmente antes dos 50 anos: parentes próximos incluem avós, tias e tios, sobrinhos e sobrinhas, netos e primos.

C) Um membro da família que desenvolveu câncer de mama em ambos os seios.

D) Um parente do sexo masculino que desenvolveu câncer de mama: se um homem dentro de sua família desenvolveu câncer de mama ou uma mulher desenvolveu câncer de mama em idade jovem ou desenvolveu câncer de ovário, é importante conversar com seu médico. Qualquer um deles pode ser um sinal de que sua família carrega uma mutação genética hereditária do câncer de mama, como BRCA1 ou BRCA2.

– Fatores hormonais: o estrogênio e a progesterona são hormônios que controlam nas mulheres o desenvolvimento de características sexuais secundárias, como desenvolvimento das mamas e gravidez. A produção feminina desses hormônios diminui com a idade, com queda acentuada em torno da menopausa. A exposição prolongada a esses hormônios aumenta o risco de câncer de mama.

A) Mulheres que começaram a menstruar antes dos 11 ou 12 anos ou que passaram pela menopausa após os 55 anos têm um risco um pouco maior de ter câncer de mama. Isso ocorre porque suas células mamárias foram expostas ao estrogênio e à progesterona por mais tempo.

B) Mulheres que tiveram a primeira gravidez após os 35 anos ou que nunca tiveram uma gravidez a termo têm um risco maior de câncer de mama. A gravidez pode ajudar a proteger contra o câncer de mama porque empurra as células da mama para sua fase final de maturação.

– Fatores relacionados ao estilo de vida: tal como acontece com outros tipos de câncer, estudos mostram que vários fatores relacionados ao estilo de vida podem contribuir para o desenvolvimento do câncer de mama.

A) Peso: mulheres na pós-menopausa com excesso de peso ou obesas têm um risco aumentado de câncer de mama. Elas também têm um risco maior de retorno do câncer após o término do tratamento.

B) Atividade física: o aumento da atividade física está associado à diminuição do risco de desenvolver câncer de mama e menor risco de o câncer retornar após o tratamento.

A maioria dos cânceres de mama é esporádica, ou seja, eles se desenvolvem a partir de danos aos genes de uma pessoa que ocorrem por acaso depois do nascimento. Não há risco de passar esse gene para os filhos de uma pessoa.

Os cânceres de mama hereditários são menos comuns, correspondendo a 5% a 10% dos cânceres. O câncer de mama hereditário ocorre quando as mudanças genéticas chamadas mutações são transmitidas dentro de uma família de uma geração para a próxima. Muitas dessas mutações estão em genes de supressão tumoral, como BRCA1 ou BRCA2. Esses genes normalmente impedem que as células cresçam fora de controle e se transformem em câncer. Mas quando essas células têm uma mutação, podem ocorrer alterações nesses genes, impedindo seu funcionamento normal e fazendo com que as células cresçam fora de controle.

Prevenção
A Sociedade Americana de Câncer recomenda que as mulheres de 40 a 44 anos tenham a opção de iniciar a mamografia anualmente. As mulheres de 45 a 54 anos devem realizar mamografia a cada ano e as mulheres com 55 anos ou mais devem fazer uma mamografia a cada dois anos ou continuar a realização anual, se assim desejarem.

A recomendação para o exame clínico das mamas não é uniforme nas sociedades médicas. Um exame clínico das mamas é quando um médico ou outro profissional de saúde realiza um exame físico dos seios para verificar anormalidades ou nódulos. Esse tipo de avaliação é normalmente recomendada juntamente com a mamografia. Embora o autoexame das mamas não tenha se mostrado capaz de diminuir as mortes por câncer de mama, é importante que as mulheres se familiarizem com seus seios, para que possam estar cientes de quaisquer alterações e relatá-las ao seu médico. Os cânceres que estão crescendo mais rapidamente são mais frequentemente encontrados através de exames de mama do que em mamografias regulares.

Finalmente, ao considerar o risco de câncer de mama, é importante lembrar que a maioria das mulheres que desenvolvem câncer de mama não tem fatores de risco óbvios e não tem histórico familiar de câncer de mama. Múltiplos fatores de risco influenciam o desenvolvimento do câncer de mama. Isso significa que todas as mulheres precisam estar cientes das mudanças em seus seios. Elas também precisam conversar com seus médicos sobre a realização de exames clínicos regulares de mama por um médico e a realização da mamografia, que muitas vezes pode detectar um tumor que ainda é pequeno demais para ser sentido e, assim, aumentar a chance de cura.

Sobre os autores

  • - Oncologista Clínica do Hospital Sepaco
    - Membra da Socidade Brasileira de Oncologia Clínica-SBOC
    - Graduação em Medicina Integrativa (Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein)

  • - Coordenador Departamento de Oncologia do Hospital Sepaco
    - Membro da American Society of Clinical Oncology (ASCO) e da European Society for Medical Oncology (ESMO)
    - Membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)