Humanização em unidade de terapia intensiva

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Luiz Henrique de Sousa Lima de Franca
Enfermeiro Assistencial da UTI Adulto do Hospital Sepaco

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI)
é a unidade de uma instituição hospitalar
especializada em receber pacientes que
apresentam quadro clínico muito grave
e complexo que requer uma assistência
capacitada, qualificada e com olhar
extremamente atento dos profissionais
que nela trabalham (1). As comorbidades
de pacientes admitidos em uma UTI
são amplas e abrangem praticamente
todas as áreas da saúde, o que requer
de seus profissionais um alto
conhecimento, habilidades específicas
e muita inteligência emocional para
lidar com os desafios que surgem
a cada plantão.

Nos últimos anos vimos o mundo ser
atingido por uma pandemia que
mostrou para a sociedade a
importância dos profissionais intensivistas.
Mas, em um ambiente tão desafiador,
que requer muita prática, habilidades
e que, frequentemente, expõe os
profissionais a situações como
duelo entre a vida e a morte, sucesso
e fracasso, difíceis tomadas de
decisões e questões éticas,
infelizmente, o ambiente pode
se tornar um tanto quanto
desumanizador (2).

Por outro lado, o paciente encontra-se
em estado de isolamento social,
tendo em vista que algumas UTIs
ainda não permitem acompanhante
e têm um curto tempo de visita,
a quantidade demasiada de
procedimentos que o paciente
não escolheu fazer ou sequer
pode opinar por sua realização,
a incerteza se verá seus entes
queridos novamente, o medo
da morte, por mais que seja preconizado
que a UTI é um ambiente silencioso,
o paciente recebe uma grande
quantidade de estímulos sensoriais
como gemidos e gritos de outros
pacientes, vozes de membros da
equipe, sons de alarmes de diversos
aparelhos como monitores, bomba
de infusão, ventiladores mecânicos,
ar condicionado, a despersonalização
do paciente que é chamá-lo pelo seu
diagnóstico e não pelo seu nome,
tudo isso favorece para que o
ambiente se torne menos humanizado.

Terapia Intensiva (Banco de Imagens – Freepik)

Uma parte extremamente importante
para a humanização em UTI Adulto
é o acolhimento do paciente e do
familiar no momento da admissão,
pois esse primeiro contato pode
gerar tanto mais tranquilidade, como
também pode causar medo e insegurança.
O acolhimento pode ser realizado
por qualquer profissional da equipe
de saúde. Normalmente, ele é realizado
pela equipe de enfermagem e médica.
Neste momento, o paciente e familiar
devem estar cientes do motivo de
sua transferência para UTI; a escuta
ativa é de grande valia nesse cenário
e uma forma mais simples de detectar
e auxiliar com os sentimentos, esclarecer
dúvidas e orientar quanto ao anseio
que eles possam estar sentindo.

A família é vista como um grande auxiliador
na redução de sintomas de estresse,
ansiedade e depressão provocados
pela enfermidade crítica e períodos
de internação prolongada na UTI.
Uma boa interação entre o familiar
e a equipe de saúde traz grandes
resultados para o cliente. Desse modo,
é primordial que a família esteja
totalmente incluída no processo de
cuidar de seu ente querido.

Em 2003, o Ministério de Saúde do Brasil
criou a Política Nacional de Humanização
(PNH), tendo como norte a humanização
nas práticas de atenção e gestão de
saúde em todas as instâncias do Sistema
Único de Saúde (SUS), a Transversalidade,
que é reconhecer que diferentes
especialidades e práticas de saúde
podem conversar com a experiência
de quem é assistido. Sendo assim,
para que a humanização seja implementada
com eficácia, o paciente deve ser tratado
de forma singular, como protagonista
de si, suas queixas devem ser ouvidas
e solucionadas, sua diversidade respeitada.
A comunicação efetiva do paciente
com a equipe de saúde tem de ser
garantida e, para isso, a equipe deve
estar sensível as diferenças de cada
sujeito, evitando o uso de termos
desconhecidos para o paciente (3).

Uma equipe de enfermagem que não
sabe identificar as necessidades da
humanização no ambiente de terapia
intensiva dificilmente conseguirá prestar
uma assistência humanizada. Portanto,
este estudo contribui para maior
aprofundamento da equipe de enfermagem
a respeito da humanização e os benefícios
desta preocupação, quais são os maiores
desafios que uma equipe encontra no
dia a dia numa unidade de terapia
intensiva e quais são os caminhos
para proporcionar um melhor cuidado.

Tendo a humanização como uma de suas
bases, a UTI Adulto do hospital Sepaco
promove a visita estendida, que consiste
em o paciente poder ter um acompanhante
na beira do leito 24 horas por dia (exceto
em casos de isolamentos por suspeita
de covid-19), essa visita permite que
haja maior vínculo entre a equipe de
saúde e a família, que consegue
acompanhar todo o processo pelo
qual o paciente passa, o que deixa
a família menos aflita e mais esclarecida
sobre o estado de saúde do seu familiar
paciente. Já o paciente, com a presença
de um familiar próximo, sente maior
segurança, o sentimento de abandono
reduz, o delirium em idosos reduz
significativamente. Como resultado
de todo esse trabalho a UTI adulto
atinge um excelente resultado no NPS
(Net Promoter Score) atingindo 91%
de promotores, que nos mostra
que estamos na zona de
encantamento dos nossos clientes.

A supervisão da UTI Adulto, juntamente
com IEP e RH, promove constantes
cursos e treinamentos de aperfeiçoamentos
que, por consequência, deixam
o profissional mais preparado
e qualificado para prestar
uma assistência ainda mais
segura e humanizada. Isso
reflete positivamente para os
pacientes e seus familiares que
se sentem mais seguros.

Atender de forma humanizada é lançar
estrelas na escuridão de alguém. Cada
ato de gentileza, cada palavra amável,
cada sorriso, dia a dia, se unem e se
transformam em constelações.
Comprimidos aliviam a dor, mas
só o amor alivia o sofrimento.

Referências bibliográficas

  1. BRASIL. Ministério da Saúde. Política
    Nacional de Humanização. 2022
    Disponível em: https://www.gov.br/
    saude/pt-br/acesso-a-informacao/
    acoes-e-programas/humanizasus/
    rede-humanizasus. Acesso em 17 nov 2022.
  2. COLLET, N; ROZENDO, C.A. Humanização
    e trabalho na enfermagem, Revista
    Brasileira de enfermagem. V.56, n.2,
    p. 189-92, 2003.
  3. Knobel E, Kuhl SD, Lopes RF. Organização
    e funcionamento das UTIs. In: Knobel, E.
    Condutas no paciente grave. 3ª ed. São
    Paulo: Atheneu; 2006.

Sobre o autor

  • - Enfermeiro Assistencial da UTI Adulto do Hospital Sepaco
    - Pós-Graduação em Enfermagem na Assistência ao Adulto em Unidade de Terapia Intensiva pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
    - Graduação em Enfermagem pela Universidade Nove de Julho