Impacto da pandemia de COVID-19 nas meningites bacterianas
Dra. Silvana Krüger Frizzo
Coordenadora da Equipe de Neuropediatria do Hospital Sepaco

Com a chegada da pandemia pelo vírus SARS-CoV-2 (COVID-19) no Brasil em março de 2020, as medidas de distanciamento social impactaram o estilo de vida da população e o uso dos serviços de saúde, nos quais o comparecimento presencial caiu drasticamente, inclusive para a vacinação infantil. Diversos países registraram queda substancial das coberturas vacinais em crianças, especialmente nas menores de 2 anos de idade. No Brasil, dados administrativos apontam o impacto da pandemia de COVID-19 no agravamento dessa queda.
E uma das maiores preocupações com o retorno ao estudo presencial nas escolas é com o possível aumento do número de casos de meningite.
Primeiramente é necessário diferenciar meningites bacterianas (que são preveníveis com vacinas) das meningites virais. Lembramos que a via de transmissão é a mesma para ambas (através das vias respiratórias), mas é necessário que o contato seja íntimo ou contato direto com as secreções respiratórias do paciente.
Crianças menores de 5 anos (principalmente aquelas menores de 1 ano) e adultos maiores de 60 anos constituem o principal grupo de risco.
A gravidade da meningite e o risco de sequelas dependem do agente etiológico – as virais são na maioria das vezes benignas com autorresolução, sem necessidade de medicamentos ou tratamento específico; já as bacterianas costumam ser mais graves, com necessidade de internação hospitalar, antibioticoterapia endovenosa e exames de controle. Quando corretamente diagnosticadas e tratadas, podem cursar sem complicações ou sequelas.
Os sinais e sintomas são caracterizados por febre, dor de cabeça intensa, náusea, vômito, rigidez de nuca, prostração e confusão mental, sinais de irritação meníngea, acompanhados de alterações do líquido cefalorraquidiano (LCR). Se não detectadas precocemente, as meningites bacterianas podem levar a delírio e coma. Caso aconteça comprometimento do cérebro (encéfalo), o paciente poderá apresentar também convulsões, paralisias, tremores, alteração na audição e na visão. Casos fulminantes também podem ocorrer.
Vale ressaltar que crianças de até 9 meses nem sempre apresentam os sinais clássicos de irritação meníngea. Nesse grupo, outros sinais e sintomas levam à suspeita diagnóstica, por exemplo, febre, irritabilidade ou agitação, choro persistente, grito ao ser manipulada (principalmente, na troca de fralda) e recusa alimentar, acompanhada ou não de vômitos, convulsões e abaulamento da moleira.
Os exames que detectam o agente causador da meningite são: análise da composição quimiocitológica e cultura do líquor (líquido cefalorraquidiano). As bactérias usualmente identificadas são meningococo, pneumococo e haemophilus. Nas meningites virais, pode-se realizar o painel viral no LCR (detecta os vírus via PCR – polimerase chain reaction).
Iniciamos a terapia com antibiótico sempre que há a suspeita de meningite bacteriana, principalmente nos menores de 15 meses.
Não devemos esquecer a profilaxia dos contatos íntimos (são considerados os moradores do mesmo domicílio, indivíduos que compartilham o mesmo dormitório, comunicantes de creches e pessoas diretamente expostas às secreções do paciente). Quando causada por meningococos ou Haemophilus influnzae, prescrevemos a quimioprofilaxia (antibiótico) e realizamos a vigilância desses contatos por pelo menos 10 dias, sempre orientando sobre os sinais e sintomas da doença e indicando os serviços de saúde que devem ser procurados diante da suspeita de meningite.
A quimioprofilaxia não está indicada para pessoal médico ou de Enfermagem que tenha atendido pacientes com meningites bacterianas, a menos que tenha havido exposição às secreções respiratórias, durante procedimentos como respiração boca a boca e/ou intubação.
O risco de sequelas neurológicas existe principalmente nas meningites bacterianas, mas o reconhecimento precoce e a antibioticoterapia adequada imediata reduzem os riscos.
Nas meningites virais não há risco de sequelas, exceto nas que têm como causa o herpes vírus e a varicela zoster.
A orientação de seguir o programa nacional de imunização não pode ser ignorada, principalmente quando o retorno às condições “normais” de vida está tão próximo.
No SUS estão disponíveis as seguintes vacinas:
• Vacina conjugada contra o Haemophilus influenzae do tipo b (na vacina TETRA que é aplicada a partir dos dois meses de idade, com grande proteção): na rede privada, essa vacina encontra-se em combinação nas vacinas HEXA, PENTA e TETRA acelulares. As crianças com mais de cinco anos de idade em geral não necessitam tomar esta vacina. No entanto, adultos e crianças mais velhas com problemas de saúde especiais devem ser vacinados;
• Vacina meningocócica conjugada C: protege contra doença invasiva causada por N. meningitidis do sorogrupo C;
• Vacina pneumocócica conjugada 10-valente: protege contra doenças invasivas e outras infecções causadas pelo S. pneumoniae dos sorotipos 1, 4, 5, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19F e 23F;
• Vacina meningocócica conjugada ACWY: protege contra mais sorotipos do meningococo; é a vacina que deve ser preferida para os reforços do segundo ano de vida e para a vacinação de crianças maiores, adolescentes e adultos. A importância desta vacina reside no fato de que muitos países, inclusive o nosso, vêm observando aumento na incidência de casos de doença meningocócica pelo sorotipo W. Além disso, em muitos países o risco de infecção pelos tipos A, W e Y é maior que no Brasil, de modo que esta vacina se torna excelente opção para viajantes. Foi incorporada ao SUS em outubro de 2020 e indicada para crianças de 11 e 12 anos.
Na rede privada podemos assegurar também a proteção com as seguintes vacinas:
• Vacina pneumocócica conjugada 23-valente: cobre um número maior de sorotipos;
• Vacina meningocócica conjugada ACWY: para os reforços do segundo ano de vida e para a vacinação de crianças maiores, adolescentes e adultos;
• Vacina meningocócica B: licenciada no Brasil em maio de 2015, para crianças a partir de 2 meses, adolescentes e adultos até 50 anos de idade. O meningococo B é responsável por cerca de 20% das doenças meningocócicas invasivas em nosso país, considerando todas as faixas etárias, mas, ao analisar as faixas etárias separadamente, observamos que ele é o principal agente etiológico entre os menores de cinco anos de idade, respondendo por cerca de 60% dos casos registrados entre menores de um ano, até 100% nas crianças entre 12 e 23 meses e 58% nas crianças entre dois e cinco anos de idade.
Doses:
• Vacina contra Haemophilus B (Hib): três doses a partir de dois meses de idade, com intervalo de dois meses entre elas e um reforço entre 15 e 18 meses;
• Vacinas meningicócicas conjugadas:
- Vacina meningocócica C Conjugada: duas doses, o mais precocemente possível a partir de dois meses de idade, com intervalo de dois meses entre as doses, reforço aos 15 meses;
- Vacina meningocócica ACWY: para os reforços recomendados entre 12 e 15 meses, aos cinco anos e aos 11 anos de idade. Adolescentes não vacinados anteriormente devem receber duas doses com intervalo de cinco anos. Adultos devem receber uma dose e reforços apenas se houver risco epidemiológico, como surtos ou viagens para países endêmicos, a critério médico;
- Vacina meningocócica B: pode ser administrada concomitantemente (mas em sítios diferentes) às conjugadas, pólio, hepatite B, tríplice viral, tetra viral e varicela. A Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIm) recomenda a vacina meningocócica B aos três, cinco e sete meses, além de uma dose de reforço entre 12 e 23 meses de idade. Para crianças entre seis e 11 meses, o indicado são duas doses, também com dois meses de intervalo entre elas e um reforço no segundo ano de vida. Já para indivíduos entre um e 50 anos, são indicadas duas doses, com dois meses de intervalo, sem necessidade de reforço.
• Vacinas pneumocócicas 10 e 13-valente: três doses, o mais precocemente possível a partir dos dois meses de idade, com intervalo de dois meses entre as doses e um reforço aos 15 meses;
• Vacinas pneumocócicas 23-valente: somente a partir dos dois anos de idade em dose única. Sob orientação médica, pode ser indicado apenas um reforço após cinco anos.
Preços médios:
• Vacina Meningo C conjugada: R$ 150,00;
• Vacina meningocócica ACWY: R$ 300,00;
• Meningo B: cada dose será oferecida às clínicas por R$ 340,00, mas o preço ao consumidor final pode variar de acordo com a localização do centro médico (por volta de R$ 500,00);
• Vacinas pneumocócicas 10 e 13-valente: por volta de R$ 200,00;
• Vacina Pneumo 23-valente: R$ 80,00.
As contraindicações são apenas se houver anafilaxia a algum componente ou na dose anterior da vacina.

Referências bibliográficas
- Ana Paula Sayuri Sato1, Pandemia e coberturas vacinais: desafios para o retorno às escolas, Rev. Saúde Pública vol.54 São Paulo 2020 Epub Nov 09, 2020
- https://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/04/883019/35-meningites-na-infancia.pdf
- guia-vigilancia-saude-volume-unico-3ed.pdf