Dados: nós temos uma oportunidade
Eduardo de Souza Pacheco
Coordenador do Escritório de Valor e Práticas Assistenciais
“Não se pode gerenciar o que não se pode medir”. A famosa frase, de Peter Drucker, nos dá uma noção da importância que os dados têm no apoio da tomada de decisões. É fato perceptível, no nosso dia a dia, que a presença de uma quantidade infinita de dados vem moldando o modelo dos negócios, das relações comerciais e vamos dizer, até mesmo, da maneira como vivemos em sociedade.
No setor da saúde, durante a rotina assistencial ou administrativa, informações são colhidas e imputadas nas mais diferentes plataformas de prontuário eletrônico do paciente disponíveis atualmente. Essa ação comum e relativamente simples seria suficiente para, em outros setores, gerar uma grande rede neural, capaz de apoiar decisões assistenciais, financeiras, comerciais, e de recursos humanos, além de permitir o acompanhamento in-time de indicadores estratégicos, táticos e operacionais.
Esses fatos constituem uma grande oportunidade de melhoria para o setor, que pode em curto prazo de tempo evoluir de maneira incomparável com recursos tecnológicos e de inteligência artificial, tornando o cuidado com os pacientes e a segurança dos colaboradores ainda maior. Porém, para isso, alguns pontos precisam ser revistos e melhorados:
• Falta de comunicação/interface entre os diversos softwares utilizados pelos serviços da saúde;
• Informações imputadas de forma aberta nos sistemas, funcionando somente para registro legal, não sendo possível gerar e extrair dados;
• Falta de qualificação na entrada e saída de dados;
• Baixo domínio, por parte dos gestores, das informações/dados que podem auxiliar na tomada de decisões;
• Falta de conhecimento sobre a padronização dos indicadores da área;
• Desconfiança dos dados/resultados obtidos através dos sistemas de informação;
• Falta de transparência na divulgação para benchmarking principalmente para os clientes finais;
• Dissociação entre a área técnica e de tecnologia em relação ao entendimento e à padronização dos dados;
• Baixo interesse das empresas de tecnologia na construção de plataformas com foco no apoio de tomada de decisão;
• A nova Lei Geral de Proteção de Dados, que é um marco regulatório e poderá impactar no uso e armazenamento de dados sensíveis.
No meio desse emaranhado de problemas, estamos vivendo um novo paradigma chamado valor em saúde (em inglês Value-Based Health Care –VBHC – ou Cuidado de Saúde Baseado em Valor em tradução literal). Mas o que seria o VBHC e o que ele tem a ver com dados?
O VBHC é definido pelo professor Michael Porter como a qualidade da assistência à saúde prestada dividida pelo custo. Somente por essa definição fica clara a necessidade da obtenção de dados de desfechos clínicos e técnicos, bem como de custos relacionados aos cuidados, para que assim se possa iniciar a caminhada rumo à mudança para o VBHC.
Diante desse grande desafio, o Hospital Sepaco, desde o final de 2019, estruturou o Escritório de Valor em Saúde e Práticas Assistenciais. O objetivo final do setor é acompanhar a evolução e ajudar a instituição a se preparar para uma possível mudança nas relações comerciais, após implantar o VBHC.
Neste período, o trabalho vem sendo dedicado para a construção de uma base de dados clínicos e financeiros que reflita os resultados institucionais de maneira simples e clara. Além disso, a implementação de novo modelo de governança clínica, que permite o benchmarking nacional e internacional de desfechos clínicos e a divulgação desses para as equipes assistenciais, gera um engajamento e reforço pela busca constante da melhoria técnica. Ao contrário do imaginado e difundido, as equipes têm demonstrado profundo entusiasmo em conhecer esses resultados e participar da construção de um novo modelo de negócio, muito mais justo e saudável.
O Sepaco, com o pioneirismo que é parte da sua essência, mais uma vez, participará da construção da história do setor da saúde no Brasil. Não tenho dúvidas disso!
