Perfil: Dr. Victor Emmanuel Tedeschi Oliveira Pereira Pinto

Revista Scientia: Como você escolheu a sua profissão? Por que optou por seguir carreira na área de Pediatria?
Dr. Victor: Não posso dizer que escolhi a Medicina desde criança. Na realidade, só fui pensar na área aos 15 anos, depois que minha mãe comentou que eu tinha perfil de médico por saber lidar sob pressão. Essa ideia ficou na minha cabeça naquela fase da vida de dúvidas e, aos 18 anos, quando fui aplicar o vestibular, só tinha uma certeza: tinha que ser médico. Na faculdade de Medicina eu dizia que nunca seguiria com a Pediatria, brincava que só quem era “maluco” gostaria de seguir essa área. Durante o internato, no módulo de Pediatria, ouvia constantemente de enfermeiras e mães de pacientes que eu levava jeito para a especialidade e uma parte de mim começava a acreditar que eu poderia de fato ser “maluco”. Quando me formei médico, ainda estava em negação e tentei prestar Anestesiologia, sem sucesso. Comecei a trabalhar em pronto atendimento adulto e, entre conversas com pacientes, equipe de Enfermagem e até familiares, aceitei que era “maluco” mesmo e que, apesar de tanta negação, eu gostava mesmo era de trabalhar com o público infantil.
Revista Scientia: Por que você decidiu vir a São Paulo? Por que o Hospital Sepaco?
Dr. Victor: Nasci em São Paulo, mas fui fazer faculdade na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, aos 21 anos. A vida foi seguindo seu curso e conheci minha esposa em Curitiba. Ela também é paulistana e cursava Farmácia na mesma instituição. Depois que me formei, já tínhamos o interesse de voltar para São Paulo para nos aproximar de nossa família; contudo, resolvemos esperar um pouco para nos estabilizar financeiramente, sabendo que o custo de vida na capital paulista era maior do que em Curitiba. Enquanto eu trabalhava, tentava provas de residência em São Paulo e no Paraná, e confesso que deixei para o Universo decidir. Em fevereiro de 2021, quando soube que fui chamado para o leilão de vagas ofertadas pelo concurso do SUS-SP, fui estudar os hospitais oferecidos. O Hospital Sepaco se destacou das escolhas tradicionais, contando com uma ótima infraestrutura e profissionais de alto nível.
Revista Scientia: Qual foi a decisão mais difícil que você teve que tomar na assistência médica e por que foi tão difícil?
Dr. Victor: Como médicos somos expostos a decisões difíceis todos os dias. Às vezes agimos automaticamente, sem pensar muito que as opções apresentadas na situação eram precárias. Acredito que o mais difícil é decidir rapidamente qual rumo seguir com um paciente no pronto atendimento: se é necessário interná-lo em regime hospitalar e, ao mesmo tempo que oferecemos um cuidado maior, corremos o risco de iatrogenia; ou se o liberamos para casa com orientações de retorno, com o risco de perder tempo precioso no cuidado. Muitas vezes, no pronto-socorro lotado, com fila de espera enorme e vários pacientes críticos, tive que decidir em segundos se internava ou se liberava. Me lembro de um caso muito emblemático na minha vida profissional, apresentado neste cenário de caos de um PS lotado. Um senhor de 55 anos com queixa de leve desconforto no peito há um dia, hipertenso, diabético, tabagista, sedentário e acima do peso. Ele tinha eletrocardiograma sem alterações e exame físico sem achados. Da forma com que aquele paciente se apresentava, era possível pensar em gastrite ou até em desconforto muscular, mas seguindo à risca a literatura, era um homem com todos os critérios de risco para uma doença cardiovascular. Internei para a Cardiologista do hospital, mesmo com protestos do próprio paciente. Fui informado no dia seguinte que o paciente estava com 90% da coronária entupida e foi para cateterismo, seguindo sem intercorrências e que passava bem.
Revista Scientia: Quais são seus maiores desafios como médico?
Dr. Victor: O ato de cuidar dos outros exige uma entrega física e mental. É muito importante ser empático, reconhecer a dor e a preocupação do paciente e de seus responsáveis, se importar com as queixas, por menores que pareçam. Ao mesmo tempo, é vital saber não se envolver demais, não absorver toda a carga emocional de situações complexas. O maior desafio é se pendurar entre essa linha entre a apatia e o excesso de zelo. É saber dosar o quanto me entregar e não deixar transparecer os meus próprios medos, preconceitos e frustrações. E essa dosagem se complica com tantos fatores externos que escapam de nossa capacidade de resolver.
Revista Scientia: Quais são seus planos para o futuro? Onde e como você se vê em cinco anos?
Dr. Victor: Profissionalmente pretendo seguir a especialidade de Endocrinopediatria e montar consultório particular, apesar dos desafios que o profissional autônomo deve enfrentar. Acredito que em cinco anos não devo ainda ter consultório, mas espero ter os meios para começar esse projeto. Difícil pensar em como serei daqui a cinco anos. Só consigo desejar que eu não perca nunca o meu entusiasmo e a vontade de trabalhar com esta profissão que acolhi.