Núcleo da prematuridade do Hospital Sepaco

Tempo de leitura: 8 minutos

Cristina Nunes dos Santos
Coordenadora Médica da Sala de Parto e
Alojamento Conjunto do Hospital Sepaco

Por trás de cada inovação, existe uma história…

“O Hospital Sepaco realizou, no dia 13 de abril de 2015, o parto
de alto risco de quíntuplos. As crianças nasceram pouco
depois das 10h30 da manhã, em um procedimento
cirúrgico que durou cerca de 40 minutos. O primeiro
bebê a nascer foi o menino, com 1,185 kg, em seguida
foram as quatro meninas, com 905 g, 930 g, 595 g e 715 g,
respectivamente. A diferença entre o nascimento da primeira
e da última criança foi de menos de três minutos.”

E foi com essa história de sucesso que a prematuridade ganhou papel de
protagonista no nosso Hospital.

Prematuridade: um problema de saúde pública
Dados globais de 2014 estimam que, dentre os nascidos vivos, 10,6% nascem antes
da 37ª semana de gestação, correspondendo a cerca de 15 milhões de prematuros,
por ano, no mundo.

O Brasil é o 9º país do mundo em número absoluto de prematuros. Em 2020,
nasceram 2.726.025 crianças no país, das quais 307.820 apresentaram idade
gestacional <37 semanas.

A prematuridade é a principal causa de morte em crianças com idade inferior a 5 anos.

As informações de países desenvolvidos indicam que, em geral, recém-nascidos
com menos de 22 semanas de gestação são muito imaturos para sobreviver com
a tecnologia atual. Já os RN com 25 semanas ou mais apresentam taxas significativas
de sobrevida e, em grande proporção, sem sequelas graves, sendo justificada a
máxima intervenção em termos de reanimação na sala de parto.

Nos 20 hospitais universitários públicos que compõem a Rede Brasileira de Pesquisas Neonatais, a análise de sobrevida hospitalar dos 3.644 RN com idade gestacional
de 23 a 27 semanas, em 2014 a 2020, com peso de 400 g a 1499 g e sem anomalias
congênitas, observa-se que mais de 50% de sobrevida hospitalar ocorre com cerca
de 26 semanas de gestação (Figura 1).

Figura 1: Idade gestacional e sobrevida hospitalar

O que foi feito desde 2015
Desde o nascimento dos quíntuplos, a nossa Unidade de Terapia Intensiva
Neonatal foi ampliada, passando de 15 para 30 leitos. Atualmente, contamos
com uma equipe multidisciplinar especializada e capacitada em atendimento
ao recém-nascido prematuro, além disso, investimentos em tecnologia de
ponta para atendimento e monitorização dos nossos bebês foram realizados.

Em 2017 entramos para o maior Banco de Dados de recém-nascidos
prematuros do mundo: A Vermont Oxford Network.

Nele, mais de 1.000 hospitais inserem os dados dos recém-nascidos de
muito baixo peso (peso de nascimento menor de 1500g). Com os relatórios,
os membros podem identificar oportunidades para melhorar o atendimento
a bebês e famílias. Os membros podem acompanhar o desempenho ao
longo do tempo para comparar suas práticas e resultados em relação a
anos anteriores, subgrupos de centros semelhantes e a rede como um todo.

Ninguém espera passar por um parto prematuro e suas consequências,
mas todas as gestantes estão sujeitas a ele.

A gestação é um fenômeno fisiológico e, por isso mesmo, sua evolução se
dá na maior parte dos casos sem intercorrências. Entretanto, há uma parcela
pequena de gestantes que desenvolvem problemas e apresentam maiores
probabilidades de evolução desfavorável. Essa parcela constitui o grupo
chamado de “gestante de alto risco”. Estão em maior risco para trabalho de
parto prematuro as mulheres que já passaram por um parto prematuro, que
estão grávidas de gêmeos ou múltiplos ou com história de problemas no colo
do útero ou malformações uterinas.

Além disso, outros fatores podem levar ao parto prematuro: ausência
do pré-natal, fumo, álcool, drogas, estresse, infecções do trato urinário,
sangramento vaginal, diabetes, obesidade, baixo peso, pressão alta ou
pré-eclâmpsia, distúrbios de coagulação, algumas anomalias congênitas
do bebê, gestações muito próximas (menos de 6 a 9 meses entre o
nascimento de um bebê e ficar grávida novamente), gravidez fruto
de fertilização in vitro e idade menor de 17 anos e acima de 35.

Nossa equipe de obstetrícia é especializada em acompanhar tanto
gestantes de baixo risco para trabalho de parto prematuro, quanto
em conduzir gestantes de alto risco e postergar ao máximo a necessidade
de resolução da gestação.

As taxas de parto prematuro estão aumentando em quase todos os países
com dados confiáveis, e, por esse motivo, a prevenção do parto prematuro
deve ser acelerada.

O planejamento familiar e o aumento do empoderamento das mulheres,
especialmente adolescentes, além da melhoria da qualidade do atendimento
antes, entre e durante a gravidez, podem ajudar a reduzir as taxas de parto
prematuro.

O bebê prematuro

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), todo bebê que
nasce com menos de 37 semanas de gestação (36 semanas e 6 dias) é
considerado prematuro, ou pré-termo (Figura 2).

Figura 2: Definição de parto prematuro segundo a OMS.

As chances de sobrevivência dos 15 milhões de bebês nascidos prematuros
a cada ano variam drasticamente dependendo de onde nascem. A Ásia
Meridional e a África Subsaariana são responsáveis por metade dos
nascimentos no mundo e mais de 80% das 1,1 milhão de mortes no mundo
devido a complicações de parto prematuro. Cerca de metade desses bebês
nasce em casa. Mesmo para os nascidos em um posto de saúde ou hospital,
muitas vezes faltam cuidados essenciais ao recém-nascido. O risco de morte
neonatal devido a complicações do parto prematuro é pelo menos 12 vezes
maior para um bebê africano do que para um bebê europeu.

A literatura aponta cuidados essenciais ao recém-nascido como ressuscitação
neonatal, cuidados térmicos, apoio à amamentação e prevenção e gerenciamento
de infecções como pontos importantes na atenção ao recém–nascido. Cuidados
extras com bebês pequenos, incluindo o Método Mãe Canguru, pode salvar cerca
de 450.000 bebês a cada ano.

Em nosso serviço, em média 65 recém-nascidos com menos de 1500
gramas nascem por ano e a taxa de sobrevida gira em torno de 70%.

A crescente demanda por tecnologia avançada no cuidado ao pré-termo
enquanto internado na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal tem
garantido maior sobrevida a esse grupo de pacientes. No entanto, a despeito
da redução da mortalidade no período neonatal, a incidência de morbidades
crônicas que envolvem déficit de crescimento e atraso no neurodesenvolvimento
entre os sobreviventes não tem reduzido de forma significativa. Ou seja, a
presença de morbidades em níveis variados faz do adequado acompanhamento
após a alta hospitalar uma extensão dos cuidados empregados na UTI Neonatal.
As anormalidades menores do neurodesenvolvimento têm sido observadas de
forma crescente nos países desenvolvidos.

E no Brasil? Dados do nosso meio ainda são escassos. Há a necessidade de acompanhar
de forma estruturada esses pacientes, a fim de conhecer o perfil dos recém-nascidos
que sobrevivem à UTI no Brasil e melhor assisti-los, estabelecendo um planejamento
de intervenção precoce.

No Núcleo do Prematuro, organizamos o seguimento da criança até 3 anos de
idade nos diferentes aspectos que envolvem as peculiaridades do seguimento
do prematuro, por meio de condutas padronizadas, respeitando as características
individuais de cada paciente.

Sobre o autor

  • Coordenadora Médica da Sala de Parto e Alojamento Conjunto do Hospital Sepaco Instrutora do Programa de Reanimação Neonatal Especialista em Neonatologia pela Sociedade Brasileira de Pediatria Graduada em Medicina pela Universidade Lusíada