Nutrição Infantil: amamentação, introdução de alimentos sólidos e prevenção de distúrbios alimentares

Tempo de leitura: 10 minutos

Victória Randoli
Nutricionista Clínica – Enfermaria
Pediátrica do Hospital e Maternidade Sepaco

Cristina Coura Napoleão
Nutricionista Lactário e Posto
de Coleta de Leite Humano
do Hospital e Maternidade Sepaco.

Flávia Sampaio
Nutricionista EMTN pediátrica
e UTI Neonatal do Hospital
e Maternidade Sepaco

O Aleitamento Materno (AM) é uma
prática de promoção à saúde
recomendada de forma exclusiva
nos primeiros 6 meses de vida da
criança e, segundo as evidências,
traz inúmeros benefícios. Estima-se
que o AM tenha o potencial
de reduzir em 13% a mortalidade
infantil por causas evitáveis,
especialmente em menores
de 5 anos. A amamentação
não é apenas uma questão
de saúde para a mãe e o bebê,
é um momento em que mãe
e filho iniciam um processo
de conhecimento recíproco
e estabelecem as bases para
uma relação saudável ao
longo da vida.

É crescente o número de crianças
que nascem prematuramente.
Os requisitos nutricionais
dessas crianças diferem
significativamente, considerando
os diversos graus de
prematuridade e o peso
ao nascer. Estabelecer um
plano ideal de nutrição para
os prematuros é desafiador,
devido ao longo período de
internação e aos riscos e
intercorrências a que estão
sujeitos, como a imaturidade
de órgãos, a instabilidade de
funções vitais básicas e a
imaturidade do reflexo de
sucção e deglutição.

O Leite Humano (LH) é considerado
padrão-ouro na alimentação
de crianças a termo e pré-termo.
Dentre os benefícios, destacam-se
os fatores de superioridade,
composição química balanceada,
melhor digestão, microbiota
favorável e especificidade
imunológica. O LH do bebê
pré-termo apresenta concentrações
mais elevadas de proteína,
cloretos, sódio, zinco, cálcio,
ácido fólico, lipídeos, triglicerídeos
de cadeia média, vitaminas
lipossolúveis e energia em
comparação com o LH a termo.
Essas substâncias são essenciais
para o desenvolvimento cerebral
das crianças prematuras.

O AM proporciona diversos
benefícios para a mãe, bebê
e sociedade. Vantagens para
o lactente incluem aumento do
vínculo afetivo, elevação da
autoestima e segurança, melhor
digestibilidade, favorecimento
da flora intestinal não-patogênica,
menor incidência de cáries e má
oclusão, diminuição da incidência
e gravidade de infecções, redução
do risco de alergias, melhoria na
evolução cognitiva, menor risco
de morte súbita do lactente e
menor probabilidade de desenvolver
doenças crônicas no futuro. Para
a mulher, o AM reduz o sangramento
pós-parto, auxilia na contração
uterina, contribui para a perda
de peso, diminui o risco de câncer
de mama e de ovários, fortalece
o vínculo mãe-bebê, melhora
a comunicação e reduz o risco
de depressão pós-parto. Na
sociedade, o AM promove maior
prevenção de doenças, menor
gasto sanitário, redução da
ausência laboral dos pais e
menor impacto ambiental.

Podemos determinar três fases
bastante distintas do leite materno:

• Colostro, o primeiro produto da
secreção láctea da nutriz até,
em média, o sétimo dia pós-parto.
Apresenta aspecto amarelado
e espesso e é composto por
proteínas, vitaminas hidrossolúveis
e lipossolúveis, minerais, gordura,
lactose, concentração elevada
de imunoglobulinas, lactoferrina,
linfócitos e macrófagos;

• Leite de transição, produzido
no período intermediário entre
o colostro e o leite maduro,
ou seja, em média, entre o 7º e
14º dia após o parto, com
composição e volume alterados
até se transformar no leite maduro;

• Leite maduro, produzido a partir
do 15º dia após o parto, com
composição variável entre mães,
mamas, horário do dia e entre
mamadas.


Introdução Alimentar
A nutrição e alimentação adequadas
são fundamentais para o ser humano,
especialmente no início da vida.
Diversas evidências destacam a
importância de estar atento à
qualidade da nutrição durante
os primeiros mil dias de vida,
desde o início da gestação até
os 24 meses.

A Organização Mundial da Saúde
(OMS) recomenda leite materno
humano ou fórmula infantil
exclusivamente até os 6 meses.
Antes dos 6 meses de idade,
os sistemas digestório e
imunológico dos bebês não
estão maduros o suficiente
para receber alimentos sólidos.
É importante notar que, em
casos de introdução alimentar
em bebês prematuros, ela deve
ser realizada de acordo com a
idade gestacional corrigida e
não cronológica.

Existem critérios para identificar
se o bebê está pronto para a
introdução alimentar, como
a capacidade de sentar sem
apoio, sustentar a cabeça e
ter controle cervical, segurar
objetos com as mãos, explorar
estímulos ambientais e
desenvolvimento oral, incluindo
movimentos voluntários e
independentes da língua
para que os alimentos rolem
na boca, facilitando a deglutição.

A alimentação complementar
adequada deve oferecer ao
lactente uma composição equilibrada,
com alimentos contendo a quantidade
certa de macro e micronutrientes,
destacando-se ferro, zinco, cálcio,
vitamina A, vitamina C e ácido fólico,
sendo livre de contaminação
biológica, química ou física, e
preparada a partir de alimentos
habitualmente consumidos
pela família.

Métodos de Introdução Alimentar
e Papel do Profissional

Apresentar à criança o mundo
dos sabores e texturas dos alimentos
pode ser um processo prazeroso
e de integração familiar, mas
também pode ser desafiador
para os pais, que frequentemente
têm dúvidas sobre quais
ingredientes oferecer, como
preparar os alimentos e como
despertar o interesse dos
pequenos pela comida.

O papel do profissional é crucial,
orientando as famílias para garantir
que recebam informações sobre
como oferecer esses alimentos.
Existem métodos diferentes para
o início da introdução alimentar
após os 6 meses de idade gestacional
corrigida:
• Método tradicional, em que
os alimentos devem ser amassados
e não processados em liquidificador
ou processador, sendo oferecidos
com utensílios

• BLW (Baby-Led Weaning), no
qual os alimentos são oferecidos
em pedaços, tiras ou bastões,
sem o uso de utensílios

• BLISS (Baby Led Introduction
to Solids), que envolve cortar
os alimentos em pedaços grandes
para que o lactente possa pegá-los
sozinho, com a oferta de um
alimento rico em ferro em cada
refeição e um alimento
de alta densidade energética.

É de suma importância orientar
os familiares que serão os
responsáveis pela escolha
do método. Independentemente
do método de oferta do alimento,
a família deve estar atenta
e respeitar os sinais de prontidão
do bebê. Além disso, alguns
alimentos são proibidos durante
a introdução alimentar antes de
1 ano de idade, devido aos riscos
à saúde da criança na vida adulta,
como leite de vaca e seus derivados,
mel, doces, sucos, sal e/ou temperos
industrializados, engrossantes,
biscoitos ou qualquer tipo de
alimentos industrializados.
A Sociedade Brasileira de Pediatria
e o Ministério da Saúde não
recomendam a oferta de doces
e açúcares nos primeiros dois
anos de vida, pois isso pode
prejudicar o desenvolvimento
e a saúde da criança, aumentando
a prevalência dos riscos de
obesidade infantil, cáries
e diabetes.

Distúrbios Alimentares
O ambiente familiar, a escola
e as residências de amigos
e familiares, onde a criança
passa a maior parte do tempo,
podem desencadear transtornos
alimentares infantis em decorrência
do comportamento alimentar.
As principais dificuldades alimentares
podem ter causas orgânicas
ou comportamentais, como
seletividade alimentar, anorexia,
bulimia, comer compulsivo,
neofobia alimentar, e estão
surgindo cada vez mais precocemente.

Os fatores relacionados ao
aparecimento de problemas
alimentares e nutricionais são
diversos, incluindo a falta ou
dificuldade na formação do
vínculo familiar desde o início
da vida e durante as primeiras
experiências alimentares do
bebê. A restrição de alguns
alimentos, pressão para comer
durante as refeições, punições
e ameaças aumentam os riscos
do consumo de alimentos restritos
e promovem aversões aos
alimentos forçados, prejudicando
a ingestão de alimentos
adequados e aumentando o
risco de obesidade infantil.

Para evitar ou reverter essas
dificuldades e distúrbios alimentares,
a compreensão da família é
fundamental, garantindo a
continuidade do crescimento
e desenvolvimento da criança.

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  • Sociedade Brasileira de Pediatria –
    Departamento de Nutrologia
    Manual de Alimentação: orientações
    para alimentação do lactente ao
    adolescente, na escola, na gestante,
    na prevenção de doenças e segurança
    alimentar. Versão 2018.

Sobre os autores

  • - Nutricionista Clínica - Enfermaria Pediátrica do Hospital e Maternidade Sepaco
    - Nutricionista Graduada pela Universidade Cruzeiro do Sul
    - Especialização em Nutrição em Pediatria pelo Instituto de Pesquisa Gestão e Saúde – IPGS

  • - Nutricionista EMTN pediátrica e UTI Neonatal do Hospital e Maternidade Sepaco
    - Nutricionista graduada pela Universidade Nove de Julho
    - Especialização em Gestão da Qualidade e Controle Higiênico Sanitário de Alimentos pelo Instituto Racine
    - Especialização em Nutrição em Pediatria pela faculdade Instituto de Pesquisa Gestão e Saúde – IPGS
    - Pós-graduanda em Nutrição na UTI Neonatal pela faculdade Unyleya

  • - Nutricionista Lactário e Posto de Coleta de Leite Humano do Hospital e Maternidade Sepaco.
    - Graduada em Nutrição pela Universidade Bandeirantes de São Paulo
    - Nutricionista especialista em Gerontologia pela Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo