Os riscos da baixa cobertura vacinal
Wilson Toyohiro Hoshino
Infectologista pediátrico do
SCIH do Hospital e Maternidade Sepaco
Roda, dinheiro, internet, antibiótico….
Quando refletimos sobre as maiores
invenções da humanidade, não
podemos deixar de mencionar
as vacinas. A primeira vacina
foi desenvolvida em 1796 por
Edward Jenner, possibilitando
a erradicação da varíola em
1980. Naquela época, a varíola
ceifou a vida de mais de 300
milhões de pessoas no século XX.
Graças a essa inovação, conseguimos
eliminar e controlar outras doenças
letais, como o sarampo, a poliomielite
e a meningite. Essa conquista
foi essencial para que nossa
expectativa de vida, que era
de apenas 32 anos no século XIX,
atingisse os atuais 77 anos!
A pandemia da COVID-19 reiterou
o poder das vacinas. Graças a elas,
conseguimos controlar a doença
e retomar nossa rotina. Apenas no
primeiro ano de vacinação, um
estudo publicado na Lancet revelou
que a imunização evitou quase 20
milhões de mortes, além de
prevenir mais 4 milhões por
meio da proteção indireta,
com a redução da transmissão
do vírus na população e a
diminuição da carga sobre
os sistemas de saúde.
No Brasil, dispomos de duas
formas de vacinação: pelo
Sistema Único de Saúde (SUS)
ou por meio de clínicas privadas
de vacinação. Mesmo em um
país de dimensões continentais,
temos o privilégio de contar
com um dos maiores e mais
robustos programas de imunização
do mundo, de forma gratuita.
O Programa Nacional de
Imunização (PNI) visa a saúde
coletiva, disponibilizando
rotineiramente 19 vacinas
que abrangem desde o
recém-nascidos até adolescentes,
gestantes e idosos, além de
outras vacinas e imunobiológicos
especiais para populações específicas.
Nas clínicas privadas, busca-se
abranger todas as vacinas
disponíveis para oferecer
a proteção individual mais
abrangente possível, podendo
ser complementar ao esquema
fornecido pelo PNI. Entretanto,
desde 2015, observamos quedas
nas taxas de vacinação de rotina
(Figura 1.) E estamos abaixo das
metas de 95% de imunização
para vacinas crucialmente
importantes, como poliomielite,
sarampo, BCG e meningite. Isso
é preocupante, pois abre espaço
para o ressurgimento de doenças
graves, com alta mortalidade,
mas facilmente preveníveis. Além
de proteger quem é vacinado,
a imunização cuida de forma
indireta das pessoas ao redor,
reduzindo a circulação de
bactérias e vírus.
Para que as gerações futuras não
testemunhem mais pessoas
paraplégicas pela poliomielite
ou morrendo por sarampo
e meningite, é fundamental
manter a caderneta de vacinação
atualizada. Levar os filhos
para vacinar, assim como se
vacinar, é um ato de amor e
cuidado ao próximo, uma
ação cidadã que contribui
para uma sociedade mais
saudável. Vacinem-se!

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