Quando procurar o pronto-socorro infantil?
Dra. Adriana Baratela Thurler
Preceptora da residência médica
em pediatria do Hospital
e Maternidade Sepaco.
Em diversos momentos é angustiante
para pais e cuidadores tomar decisões
a respeito da saúde de uma criança.
O medo de situações de maior gravidade,
a falta de orientação e a comodidade
do atendimento 24 horas motivam
as famílias a procurarem o pronto-socorro
infantil com frequência, mesmo em
situações não ameaçadoras à vida.
A grande maioria das crianças que
dão entrada nos serviços de Urgência
e Emergência pediátricos poderia
aguardar a consulta com o pediatra
da rotina, o que sobrecarrega
o atendimento da equipe e
aumenta o tempo de espera
para atendimento.
No decorrer deste texto, vamos
abordar as principais indicações
para procurar o Pronto-Socorro
Infantil (PSI). Além disso, orientamos
que as famílias sempre mantenham
o acompanhamento pediátrico
de rotina, inclusive discutindo
essas orientações com o
profissional que já conhece
a criança em questão.
Casos de resfriado ou síndrome
gripal são extremamente comuns
na faixa etária pediátrica,
especialmente em crianças
que frequentam pré-escola
ou convivem com outros
indivíduos em faixa etária escolar.
Coriza, tosse e congestão nasal
são sintomas esperados e podem
ser controlados em domicílio.
Esses quadros respiratórios são,
em sua maioria, causados por
agentes virais benignos e autolimitados,
não havendo medicação curativa
que cesse imediatamente os sintomas.
O tratamento de suporte consiste
em hidratação, repouso e medicações
sintomáticas. Dessa forma, a ida
desnecessária ao PSI apenas expõe
a criança a mais microorganismos,
além de contaminar as demais crianças
que realmente necessitam do
atendimento de urgência e emergência.
Por outro lado, determinadas situações
indicam a necessidade de ida ao PSI:
respiração mais rápida e ofegante
(mesmo na ausência de febre),
barriga e pescoço afundando durante
a respiração, pele se retraindo entre
as costelas durante a inspiração,
aspecto de sufocamento ou
coloração da pele arroxeada
indicam necessidade imediata
de avaliação médica.
Já a febre é um sinal inespecífico
presente em grande parte das infecções.
Isoladamente, não consegue indicar
o foco da infecção ou a sua gravidade;
portanto, na maioria dos casos,
é recomendado aguardar a evolução
do quadro nas primeiras 72 horas
de febre. Quadros clínicos com febre
de duração superior a 72 horas ou
com sinais de alarme associados
precisam ser avaliadas no PSI, tais como:
manchas vermelhas no corpo, dores
intensas, sonolência, falta de resposta
aos chamados, desmaios, tremores,
choro inconsolável, vômitos, convulsões,
recusa alimentar severa, prostração/adinamia
intensa, alucinações ou alteração do
estado mental da criança. No entanto,
qualquer pico de febre em pacientes
menores de 3 meses ou imunossuprimidos
deve ser avaliado imediatamente.
Vômitos são sintomas inespecíficos
que não necessariamente indicam a
presença de doença, geralmente são
autolimitados e passíveis de melhora
com medicação sintomática via oral.
Já a diarreia aguda (com duração menor
de 14 dias) está frequentemente presente
em infecções gastrointestinais causadas
por vírus, quadros também autolimitados
e benignos. A principal preocupação
nesses casos relaciona-se a possibilidade
de desidratação: fraldas secas, não
urinar por mais de seis horas, não
conseguir manter qualquer alimento
ou líquido no estômago, vômitos
frequentes refratários à medicação
sintomática, boca e mucosa secas,
fontanela (moleira) rebaixada, olhos
encovados (fundos), choro sem
lágrimas, apatia, sonolência, aparentar
não estar bem, vômitos e diarreia
com sangue.
Traumas também são bem frequentes
na faixa etária pediátrica. No caso de
traumatismos cranianos a imensa
maioria das ocorrências é benigna,
porém devemos ressaltar os sinais
de alarme de gravidade: perda de
consciência, amnésia (perda de
memória), convulsão pós-trauma,
alteração comportamental, vômitos
incoercíveis (que não param),
sonolência excessiva e anormal.
O período crítico de observação
são as primeiras 12 a 24 horas.
Já na presença de sangramentos
em qualquer local da pele,
acompanhados de lesões
profundas ou que não cessam
espontaneamente em alguns minutos,
também está indicada a ida ao
serviço de urgência e emergência.
Rebaixamento do nível de consciência
no geral, mesmo que isolado, também
configura uma urgência pediátrica.
Convulsões, exceto em paciente com
síndromes epilépticas onde os escapes
já sejam esperados, constituem uma
urgência pediátrica. Na possibilidade
de reações alérgicas, se a criança
apresentar manchas vermelhas no
corpo, lábios e língua inchados
e estiver com dificuldade para
espirar, deve ser levada ao
PSI imediatamente.
Por fim, também precisamos estar
sempre atentos a possíveis ingestões
acidentais de medicamentos, produtos
de limpeza, inseticidas ou drogas ilícitas.
O tempo entre a ingestão e a possível
intervenção é importante. Leve ao PSI
a caixa do produto ou o recipiente
para verificação do médico.
De qualquer forma, vale lembrar que
o PSI não é o lugar adequado para
o acompanhamento do desenvolvimento
da criança quanto ao peso e estatura,
nem para o seguimento de doenças
crônicas, tampouco para orientações
sobre cuidados com recém-nascidos.
São eventos para serem acompanhados
em Ambulatório, com consulta agendada.
Casos leves e comuns também não
necessitam de atendimento no PSI.
Com a disseminação da informação
de qualidade e bom acompanhamento
pediátrico de rotina conseguimos
melhorar a qualidade de atendimento
no PSI, possibilitando o melhor uso
direcionado da sua infraestrutura
aos pacientes com demandas graves.

Criança recebendo cuidados médicos
(Banco de Imagens – Adobe Stock)