Singularidade e experiência do paciente: contribuições da psicologia
Thaina Chaves Dutra
Psicóloga de Referência da Unidade de Internação Adulto do Hospital Sepaco
Viviane Rodrigues de Souza
Psicóloga de Referência da UTI
Adulto do Hospital Sepaco
Atualmente, em meio à correria da vida moderna e do acúmulo de funções que desempenhamos em nosso dia a dia, não há tempo para mais nada. Imagine, quando de forma surpreendente, nos deparamos com o diagnóstico de uma doença e com a necessidade de ser hospitalizado!?
A doença e a hospitalização são vivenciadas por muitos como uma ruptura. Não temos interesse nem tempo para pensar nessas questões. Por isso, quando somos atravessados por essa situação, podemos nos desestruturar, sair do eixo; e isso demanda um tempo para nos adaptarmos e nos reorganizarmos.
A doença é um acontecimento real no corpo, e, junto com ela, vem o adoecimento, que é a forma como cada indivíduo significa sua doença. A doença pode ser a mesma, mas será vivenciada por cada um de maneiras diferentes.
O adoecimento desencadeia repercussões emocionais como: medo, impotência, insegurança, ameaça da morte, falta de controle, ansiedade em relação aos procedimentos, ansiedade de separação, vulnerabilidade, fragilidade, dependência, desamparo etc. Contudo, une-se a sentimentos de confiança, esperança, recuperação e melhora da qualidade de vida.
Diante desse contexto, a Psicologia Hospitalar tem como objetivo cuidar da subjetividade humana presente em toda e qualquer doença. Ficamos atentos a comportamentos, pensa-mentos, sentimentos, desejos, sonhos, lembranças, crenças, discursos, entre tantos outros aspectos que formam a dinâmica psíquica do indivíduo, que repercutem no processo de adoecimento.
É com toda essa bagagem que nossos (futuros e atuais) pacientes adentram o hospital. Nesse sentido, não será suficiente cuidar apenas da doença, precisaremos cuidar do indivíduo doente, do adoecimento. Cuidar do paciente engloba entendê-lo como um ser completo, biopsicossocial e espiritual.
Normalmente, o paciente não está sozinho, sua família o acompanha. Ter um familiar hospitalizado e adoecido pode gerar angústia, sofrimento emocional e reações emocionais,como frustração, angústia, impotência e medo da perda (1).
A equipe também faz parte desse cenário. Afeta e é afetada por todas as nuances e todos os sentimentos suscitados da vivência de hospitalização. O cuidado ofertado precisará contem-plar toda essa trama subjetiva e lidar também com diferentes personagens. O cuidado com o adoecimento precisa considerar as inter-relações existentes entre paciente, família, equipe e instituição de saúde.
Na hospitalização, o paciente tem toda a sua subjetividade sacudida, por isso é importante que o cuidado ofertado seja integral. Dada a complexidade do ser humano, precisamos considerar um atendimento que vá além da intervenção puramente psicológica, que é o principal objeto de trabalho do psicólogo, mas que considere as diversas dimensões do paciente em contexto de hospitalização e adoecimento.
Dito isso, parte do trabalho da psicologia dentro do contexto hospitalar é o de buscar manejos para além do apoio e cuidado emocional beira leito.
Da esqueda para direita: Patrícia Lebensold Mekler – Coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Sepaco, Roberta Gomes Moretto Polonio – Psicóloga de Referência da Medicina Fetal, Unidade Cuidados da Mulher e UTI Neonatal do Hospital Sepaco, Viviane Rodrigues de Souza – Psicóloga de Referência da UTI Adulto do Hospital Sepaco, Thaina Chaves Dutra – Psicóloga de Referência da Unidade de Internação Adulto do Hospital Sepaco, Aghata Sousa Pereira – Psicologa de Referência da UTI Pediátrica, UTI Cardiológica Pediátrica e Pediatria e Katia Branco de Moraes – Psicologa de Referência da UTI Pediátrica, UTI Cardiológica Pediátrica e Pediatria.
Sabemos que um ambiente seguro e acolhedor ajuda na organização psíquica. Consequen-temente, ajuda na adaptação à nova realidade que se estabeleceu com o advento do adoecimento. A psicologia pode favorecer manejos que auxiliam o paciente e seus familiares nesse momento, e no Hospital Sepaco conseguimos fornecer isso por meio de estratégias, como:
Discussão de casos com a equipe multiprofissional: com o intuito de construir pontes entre paciente-família-equipe, para favorecer a compreensão e, a comunicação entre as partes envolvidas no processo do adoecer, desde o diagnóstico, o tratamento até o prognóstico.
Visitas estendidas: em unidades críticas como UTIs, os horários de visitas são restritos. A psicologia auxilia com a liberação de familiares por mais tempo, o que pode ser benéfico, em especial para um paciente idoso. A presença do familiar torna-se de grande valia para auxiliar o enfermo na organização diante de uma situação de crise.
Visitas assistidas de crianças: com a avaliação da psicologia, é possível que menores de 13 anos visitem seu ente querido na UTI, de modo a favorecer a relação entre o paciente e seu meio social.
Visitas de pets: ocorrem com o animal de estimação do próprio paciente, com a finalidade de auxiliar na minimização do sofrimento emocional vivenciado pela hospitalização e pelo distan-ciamento de casa. Também ocorrem em parceria com ONGs que trazem pets para visitar os pacientes que desejam e podem recebê-los.
Favorecimento dos rituais de despedidas em desfechos de óbitos. Acompanhamento de óbito: Quando o paciente falece, sendo ou não acompanhado pelo serviço de Psicologia, são oferecidos acolhimento e suporte psicológico para os familiares.
Caixa de lembranças: é disponibilizada para a produção de memórias, quando o paciente está falecendo. Também realizada em sala de parto em casos de OF.
Todas as intervenções mencionadas são pensadas caso a caso e têm como objetivo auxiliar e proporcionar um ambiente mais acolhedor. Na medida em que olhamos para a subjetividade, o paciente, seu familiar e equipe são cuidados em suas necessidades de forma singular, o que refletirá em sua experiência no processo de hospitalização.
Não podemos mudar a história daqueles que nos procuram, mas podemos cuidar para que o pedaço da história que o paciente vivenciou no hospital seja lembrado por meio de memórias afetivas de cuidado e conforto.
Referências bibliográficas
• LIMA, MJV et al. A esperança venceu o medo: Psicologia Hospitalar na crise do Covid-19. Cadernos Esp. Ceará. Edição Especial. 2020, jan. jun.; 14(1): 100-108. Disponível em: https://cadernos.esp.ce.gov.br/index.php/cadernos/article/view/337/220.