Tipos de pesquisa científica
Daniela Boschetti
da Redação da Revista Scientia
Ao longo da história, sempre se procurou entender os fenômenos naturais
a fim de produzir conhecimento para obter controle e fazer previsão sobre eles.
Uma das ferramentas utilizadas para se obter conhecimento é a pesquisa científica,
caracterizada por ser um estudo planejado que envolve um conjunto de procedimentos sistemáticos com o objetivo de entender, explicar e resolver determinado problema,
utilizando método de abordagem especial e raciocínio lógico. Nesse cenário,
há que se considerar que o conhecimento científico é um fator fundamental
do desenvolvimento de um país e de uma sociedade, instituindo-se como fonte
confiável e legítima para entender e explicar o desconhecido.
Para que uma pesquisa possa ser considerada científica, é necessário o uso de
métodos sistemáticos e estruturados de observação, além da preocupação com
a avaliação das variáveis envolvidas e do erro que possa existir nessa observação.
É fundamental que haja compreensão dos tipos de pesquisas para o delineamento
correto e, consequentemente, os objetivos sejam alcançados, evitando possíveis
desvios que possam interferir nos resultados obtidos. Didaticamente, é possível
classificar os tipos de pesquisa em observacionais e experimentais, como podemos
observar na Figura 1:

Figura 1: Classificação dos tipos de pesquisas
No conjunto das pesquisas observacionais, encontramos as pesquisas descritivas,
que têm por objetivo verificar, registrar e descrever um determinado fenômeno
ocorrido com uma amostra ou população segundo o tempo e/ou o lugar. Como
exemplo, temos o relato de caso, que se caracteriza por uma análise detalhada de
um caso individual que explica a dinâmica e a patologia de uma dada doença. Este
pode ser expandido para uma série de casos, que descreve características de um
número de pacientes com uma determinada doença ou outro efeito. Pode-se fazer
uso de dados primários (coletados para o desenvolvimento do estudo) e/ou dados secundários (preexistentes de mortalidade e hospitalizações, por exemplo) para a
realização desses estudos.
Já as pesquisas observacionais analíticas são delineadas procurando explicar
a relação entre a causa e o efeito, como examinar a existência de associação
entre uma exposição a uma doença ou condição relacionada à saúde. Dentro
dessa modalidade, temos as pesquisas transversais que medem a prevalência
da doença e, por essa razão, são frequentemente chamadas de pesquisas de
prevalência. Nesse tipo de pesquisa, as medidas de exposição e efeito (doença)
são realizadas ao mesmo tempo.
As pesquisas caso-controle e de coorte constituem uma forma mais simplista
de investigar a causa das doenças. Em pesquisas caso-controle seleciona-se
um grupo com determinada doença e outro grupo não afetado pela doença
para ser o controle. Investigam-se dados sobre a ocorrência da doença em um
determinado momento no passado, buscando uma determinada causa (exposição)
para a doença ocorrida. As pesquisas de coorte, também chamadas de longitudinais
ou de incidência, iniciam com um grupo de pessoas livres da doença, classificando-o
em subgrupos, de acordo com a exposição a uma causa potencial da doença ou
desfecho sob investigação. As variáveis de interesse são especificadas e medidas,
e a coorte inteira, acompanhada com o objetivo de ver o surgimento de novos
casos de doença (ou outro desfecho), difere entre os grupos, conforme a presença
ou não de exposição.
Fechando o grupo das pesquisas observacionais analíticas estão as ecológicas,
ou de correlação, que são utilizadas para comparar a ocorrência da doença/condição relacionada à saúde e a exposição de interesse entre populações de países, regiões
ou municípios, por exemplo, para verificar uma possível existência de associação
entre elas.
No segundo braço dos tipos de pesquisa observado na figura 1, observamos as
pesquisas experimentais ou de intervenção, ou seja, são aquelas que envolvem
a tentativa de mudar as determinantes de uma doença, tais como uma exposição
ou comportamento, ou cessar o progresso de uma doença por meio de tratamento.
Nessas pesquisas determina-se um objeto de estudo, selecionando as variáveis
que o influenciam, definindo as formas de controle e de observação dos efeitos
que as variáveis produzem no objeto.
O ensaio clínico randomizado é uma dessas variáveis e diz respeito a um experimento
que tem como objetivo principal analisar os efeitos de uma intervenção em particular.
Os indivíduos são selecionados aleatoriamente e alocados para os grupos de
intervenção e controle, e os resultados são avaliados comparando-se os desfechos
entre esses grupos.
Ensaios de campo podem ser utilizados para avaliar as intervenções que objetivam
reduzir a exposição sem necessariamente medir a ocorrência dos efeitos sobre a
saúde. Envolvem pessoas que estão livres de doença, mas sob o risco de desenvolvê-la,
uma vez que os participantes estão livres da doença e o propósito é prevenir
a ocorrência de doenças mesmo entre aquelas de baixa frequência.
Ensaios comunitários são experimentos em que os grupos de tratamento são
comunidades em vez de indivíduos, visando compreender os mais diferentes
aspectos de uma determinada realidade. Esse delineamento é particularmente
apropriado para doenças que tenham suas origens nas condições sociais e que
possam ser facilmente influenciadas por intervenções dirigidas ao comportamento
do grupo ou do indivíduo.
Podemos concluir que o tipo de estudo e delineamento de uma pesquisa
é decidido de acordo com as metas preestabelecidas, assim como o
entendimento dos diferentes tipos de pesquisas, e suas classificações são
fundamentais para a obtenção de sucesso na realização da pesquisa científica.
Referência bibliográfica
• Bonita R, Beaglehole R, Kjellström T. Epidemiologia básica. OPS; 2008.