Uso consciente do Pronto Atendimento, principalmente nos dias atuais
Ricardo Ratti
Membro Titular Colégio Brasileiro de Cirurgiões – TCBC
Tempos difíceis. Estamos enfrentando há cerca de 2 anos, aquela que já
pode ser considerada a maior e mais grave pandemia de todos os tempos
com altíssima morbimortalidade e que teima em continuar existindo, com
sequelas gravíssimas e crônicas, mesmo após o aparecimento de vacinas.
Experimentamos, a partir de dezembro último, uma nova epidemia gripal
causada principalmente pela nova cepa H3N2, modificada em relação as
Cepas contempladas nas vacinas de gripe que tomamos atualmente. Fatores
como baixa cobertura vacinal (em decorrência da tão propalada e incentivada
vacina contra Covid-19) e afrouxamento social causado por estádios de futebol
lotados, eventos artísticos, bares e restaurantes lotados e por fim, eventos
familiares de fim de ano (também tão aguardados após tanto tempo de
pandemia) contribuíram severamente para este agravamento de casos levando
a novas lotações de pronto atendimento e aumentando muito a necessidade
de leitos em isolamento; levando a novo estado crítico do sistema de saúde
como um todo.
Feitas as colocações acima, me ocorreu uma velha preocupação que é sobre
o uso consciente do pronto atendimento. Falamos desta unidade nobre de
atendimento, onde chegam de dores pontuais passageiras até um paciente
com rompimento de aneurisma, ou ainda com infarto do miocárdio.
Claro que para o ser humano a “dor dele” é “sempre” uma urgência,
mas cabe aqui definirmos urgência, emergência e doenças de
tratamento eletivo, a saber:
Inicialmente emergência pode ser conceituada como um estado
clínico que requer internação e intervenção imediata com risco
de morte iminente, se nada for feito, em poucas horas.
Urgência, definimos conceitualmente também como um estado
clínico que requer internação e ou intervenção imediata com risco
de morte iminente em até 24 a 48h.
Doenças eletivas são aquelas que devem ser tratadas, porém no
tempo correto, da forma mais bem-planejada e de preferência ter
sua condução em ambiente ambulatorial.
As duas primeiras condições, emergências e urgências, devem ser
abordadas inicialmente no ambiente de pronto atendimento e salas
de emergência. Friso isto, uma vez que a estrutura de um pronto
atendimento é equipada para receber casos de urgência/emergência,
então neste ambiente o principal foco da equipe médica não é em cima
do diagnóstico e sim, do tratamento dos sinais e sintomas. Tratar dores,
febre e falta de ar são prioritários neste ambiente, muitas vezes deixando
o diagnóstico e demais orientações de seguimento do caso, para um
segundo plano/momento.
No ambiente de pronto socorro o foco do atendimento médico está
em buscar a causa de algo que mexeu com o equilíbrio de nosso corpo.
A consulta é mais assertiva e direcionada para o fim desejado, que pode
ser baixar uma febre, aliviar uma dor ou ainda conter um sangramento
ou o avanço de um infarto.
Troca de receitas, encaminhamentos para especialista, atestados
desnecessários estão entre causas que não devem levar ao uso
de um pronto atendimento, bem como também “passar no médico
do momento”, pois “estou com pressa para resolver um problema”
que deve ser resolvido em ambiente ambulatorial.
No ambiente da gestão de um pronto atendimento, nos deparamos
com muitos casos de uso frequente e desnecessário, onde ligamos
um alerta, pois muitas vezes a pessoa precisa realmente de ajuda e
está provavelmente sem a orientação devida; o que torna necessária
uma intervenção de acolhimento e orientação, por parte da operadora
de saúde (fazemos este trabalho na Autogestão). Não é passível de
normalidade uma pessoa precisar passar de 10 a 20 vezes por ano
num pronto atendimento. Com certeza algo precisa ser corrigido
nesta rota com acolhimento adequado e ajustes no tratamento que,
com certeza, esta pessoa irá precisar.
Finalizo dizendo que o pronto atendimento deve ser procurado,
principalmente nos tempos atuais em que enfrentamos pandemia
de Covid19 e epidemia de Influenza; em casos urgentes de dores
agudas ou que não melhoram com analgésicos simples, febre acima
de 38 graus-persistente após 1 ou 2 doses de antitérmicos sem sucesso,
falta de ar que incomoda , sangramentos não esperados ou ainda
devido a cortes; suspeita de AVC dentre outras causas e deve ter seu
uso consciente por parte de todos nós, para deixarmos livre para casos
como os citados acima que requerem intervenção imediata e assim
evitamos filas e demoras de atendimento que muitas vezes podem
ser o diferencial entre sobreviver e morrer.
