Como narrativas cativantes transformam a experiência da aprendizagem

Tempo de leitura: 7 minutos

Cristiana de Farias Bezerra
Da redação da Revista Scientia
Eloá Otrenti
Da redação da Revista Scientia

Imagine um treinamento corporativo
que não apenas transmita informações,
mas também cative, inspire e motive
os participantes a absorverem
conhecimento de forma mais
profunda. Bem-vindo ao mundo
do storytelling aplicado aos
treinamentos, onde as palavras
ganham vida, criando conexões
poderosas e transformando
a experiência de aprendizagem.

No universo dinâmico dos negócios,
onde a atenção compete ferozmente
pelos preciosos minutos de cada
colaborador, o storytelling emerge
como uma ferramenta inigualável.
Não é apenas sobre contar histórias
por contar; é criar uma narrativa
que ressoe, estimule a reflexão e
permaneça na mente dos
participantes muito além do
término do treinamento.

Gabriel (2000) descreve que o
storytelling une as palavras
inglesas “story” (história),
derivada do grego, e “telling”
(contar). Para entender essa
ferramenta, é preciso saber
a diferença entre duas palavras
da língua inglesa: “history” e
“story”. A primeira está
relacionada a fatos reais,
como a queda do Império
Romano ou algo que aconteceu
em sua vida, rotina ou não.
A segunda é uma estrutura
narrativa, geralmente ligada
à ficção, mas não necessariamente.
Na língua portuguesa, o correto
é escrever “história” para ambos
os casos. Portanto, se nesse texto
a palavra história for mencionada,
ela se referirá a “narrativas”. Esse
esclarecimento linguístico é
crucial para compreender que,
ao falarmos de “história” no
contexto do storytelling, estamos
nos referindo a narrativas, sejam
elas baseadas em fatos reais
ou elementos ficcionais. Essa
distinção é fundamental para
explorarmos todo o potencial
dessa poderosa ferramenta,
não só para a comunicação,
mas também para fortalecer
o aprendizado.

Fog et al. (2010) destaca de maneira
enfática a premissa de que o
storytelling é uma poderosa
ferramenta para compartilhar
conhecimento, utilizada pelo
homem muito antes do que
qualquer mídia social. Para ser
mais exato, há algo em torno
de 30 mil a 100 mil anos,
quando acredita-se que o
Homo sapiens desenvolveu
a linguagem. Essa observação
enfatiza a importância não
apenas de contar histórias,
mas de fazê-lo de maneira
habilidosa e significativa,
evitando os efeitos negativos
de narrativas mal construídas.

De acordo com Eboli et al (2010),
educar é, de fato, contar histórias.
Bons professores estão sempre
eletrizando seus alunos com
narrativas interessantes ou curiosas,
carregando nas costas as lições
que querem ensinar. Ao aplicarmos
essa prática ancestral ao
contexto contemporâneo
de treinamento, percebemos
que o storytelling transcende
a barreira do tempo, mantendo-se
como um catalisador poderoso
para a transmissão eficaz de
conhecimento; nos treinamentos,
as narrativas não apenas informam,
mas envolvem, inspiram e deixam
uma impressão duradoura
nos participantes.

Contar histórias durante sessões
de treinamento não é apenas
uma estratégia pedagógica, é
uma maneira de criar uma
conexão significativa entre
os conceitos abstratos e a
experiência prática. Ao ilustrar
princípios e lições com histórias
envolventes, facilitamos
a compreensão, estimulamos a
reflexão e incentivamos a
aplicação prática do
conhecimento adquirido.

Fog et al (2010) enfatiza que
“não há uma fórmula definida,
mas seria simplista presumir
que compreender o que torna
uma história cativante
automaticamente transformaria
alguém em um contador
de histórias mais habilidoso,
pois o storytelling abrange
vários fatores diferentes que
precisam ser moldados a uma
plateia específica e a uma
situação dada. É virtualmente
impossível instituir um conjunto
de regras”. Neste contexto,
os autores remetem que a
maior parte das histórias
implica pelo menos alguns
elementos fixos básicos.
Esses elementos podem ser
misturados, combinados e
aplicados de diversas maneiras,
dependendo do contexto em
que a história é contada e
seu propósito.

Como mostrado na Figura 1,
esses quatro elementos podem
ser usados como ponto de
controle ao desenvolver
histórias sobre o treinamento,
ajudando a assegurar que a
história tenha tudo o que
precisa para ser boa.


Mensagem: O primeiro passo é
desenvolver uma mensagem clara
e definida. Sem isso, não há
razão para contar histórias,
pelo menos não com um
propósito estratégico.

Conflito: Gira em torno do desafio
central ou problema enfrentado
pelos personagens. O conflito
é muitas vezes crucial para
manter a narrativa dinâmica
e instigar o interesse do público.

Personagem: Refere-se à presença
de personagens na história, que,
quando bem desenvolvidos
e envolventes, ajudam a criar
empatia e conexão emocional
com o público.

Assunto: Com a mensagem, conflito
e elenco estabelecidos, a
progressão da história torna-se
crucial. A sequência de eventos
dentro de um determinado tempo
deve ser cuidadosamente planejada,
considerando a limitação de
transmitir uma ideia de cada vez.
Uma estrutura precisa é essencial
para impulsionar a narrativa e
manter o interesse do público.

A compreensão de como narrativas
cativantes transformam a experiência
de aprendizagem está
intrinsecamente ligada à
prática do storytelling.
Ao incorporar elementos
como personagens envolventes,
trama estruturada, configurações
imersivas e conflitos instigantes,
o storytelling oferece mais do
que apenas uma forma de
comunicação. Ele se torna
uma ferramenta dinâmica
que transcende a simples
transmissão de informações,
proporcionando uma conexão
emocional e uma compreensão
mais profunda.

O storytelling não apenas torna
o aprendizado mais atraente,
mas também cria uma ponte
entre conceitos abstratos e
experiências práticas. Ao contar
histórias, não apenas informamos,
mas inspiramos, motivamos
e facilitamos a assimilação
do conhecimento. A narrativa,
como uma força poderosa na
construção de significado,
desbloqueia a capacidade
de reter informações e
promove uma aprendizagem
mais duradoura.

Portanto, ao explorar a importância
das narrativas cativantes na
experiência de aprendizagem,
reconhecemos o storytelling
como uma habilidade essencial
para educadores, treinadores
e comunicadores. É através da
arte de contar histórias que
podemos não apenas transmitir
conhecimento, mas criar uma
jornada envolvente que estimula
a curiosidade, alimenta a
imaginação e, acima de tudo,
transforma a maneira como
aprendemos e compreendemos
o mundo.

Storytelling (Banco de Imagens – Freepik)

Referências bibliográficas

  1. Gabriel, Yannis. Storytelling in Organizations: Facts, Fictions, and Fantasies. New York: Oxford University Press; 2000.
  2. Fog, Klaus et al. Storytelling: Branding in Practice. 2nd. Copenhagen: Springer; 2010.
  3. Eboli, Marisa et al. Educação corporativa fundamentos, evolução e implantação de projetos. 1º ed. São Paulo: Editora ATLAS; 2010. p.85.

Sobre os autores

  • - Enfermeira de Educação Continuada do Hospital Sepaco
    - Especialista em Educação Corporativa pelo Senac
    - Especialista em Docência e Licenciatura pela Universidade Iguaçu
    - Especialista em Gestão Hospitalar pela Universidade São Camilo
    - Designer de cursos online

  • - Enfermeira de educação continuada do Hospital Sepaco
    - Doutora e mestre em Ciências pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo
    - Especialista em Gerência de serviços de Enfermagem pela Universidade Estadual de Londrina
    - Produtora de conteúdo audiovisual e designer instrucional