Fonoaudiologia em bebês prematuros

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Maria Beatriz Baruzzi
Coordenadora da Equipe de
Fonoaudiologia do Hospital Sepaco

Marina Luciano Kozik
Fonoaudióloga Especializada em Disfagia Pediátrica, Dificuldades Alimentares na Infância e Desenvolvimento Cognitivo e de
Linguagem em crianças de alto risco

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o RN prematuro (RNPT)
é aquele que nasce com menos de 37 semanas completas de gestação,
contadas a partir do primeiro dia do último período menstrual. O constante
avanço do desenvolvimento tecnológico, especificamente na medicina
obstétrica e perinatal, permitiu o aumento da sobrevida dos recém-nascidos
prematuros e bebês de alto risco.

Por nascerem antes da idade esperada, os prematuros apresentam
imaturidade anatômica e funcional e instabilidade dos sistemas
importantes para sua autor-regulação, podendo também apresentar
alterações neurológicas, cardíacas e respiratórias, o que faz com que
necessitem de cuidados intensivos.

A Fonoaudiologia é a ciência responsável por atuar na promoção,
na prevenção, no diagnóstico e no tratamento dos aspectos
relacionados à comunicação humana. Dentro da Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal, a atuação fonoaudiológica abrange desde a
prevenção e a detecção de deficiência auditiva, o incentivo ao
aleitamento materno até a assistência alimentar, analisando se o
bebê está pronto para iniciar a alimentação por via oral com
segurança e eficiência, ajudando no processo de desospitalização.

Sabe-se que a audição é essencial no processo de desenvolvimento
das competências linguísticas e cognitivas, fundamentais para o
desenvolvimento neurolinguístico, social e emocional infantil.
A Triagem Auditiva Neonatal (TAN) é considerada um procedimento
eficaz na detecção precoce da deficiência auditiva em lactentes,
portanto, deve ser uma das prioridades na assistência neonatal,
motivo pelo qual tornou-se obrigatória a partir da Lei Federal
nº 12.303/2010.

A TAN possibilita a detecção precoce da deficiência auditiva e, aliada
ao encaminhamento para diagnóstico antes do 3º mês e à intervenção
fonoaudiológica até o 6º mês, minimiza os prejuízos no processo de
aquisição e desenvolvimento de audição, fala e linguagem do bebê.
Há também consenso na literatura mundial sobre a importância do
monitoramento e o acompanhamento fonoaudiológico, até o segundo
ano de vida, dos bebês com indicador de risco para deficiência auditiva,
tais como: a prematuridade, o baixo peso e o tempo de permanência em
unidade de cuidado intensivo, visto que a prevalência de perda de audição
nesta população é de 3% a 9%. O Ministério da Saúde e a Organização
Pan-Americana, em consonância com as recomendações da Organização
Mundial de Saúde, enfatizam que o aleitamento materno exclusivo é o
método de alimentação de excelência até o sexto mês de vida do bebê,
quando outros alimentos deverão ser introduzidos, porém com a
manutenção da amamentação até o segundo ano de vida.

Além dos benefícios imunológicos e nutricionais, a amamentação
é o fator decisivo e primordial para a correta maturação e o
crescimento craniofacial em nível ósseo, muscular e funcional,
mantendo essas estruturas aptas para exercer o desenvolvimento
da musculatura orofacial, garantindo o desenvolvimento das
funções fisiológicas. Isso visto que a alimentação é uma
habilidade complexa que depende da integridade e da
sincronicidade de diversos sistemas e estruturas para que
aconteça de forma segura e eficaz.

A coordenação entre a sucção, a respiração e a deglutição se
inicia por volta da 33ª semana de gestação e se estabelece com
a maturação neurofisiológica e com as experiências vivenciadas
pelo recém-nascido. Portanto, a imaturidade supracitada, característica
da prematuridade, pode interferir na habilidade de alimentar-se por
via oral e recorrer à introdução de uma sonda, para garantir o aporte
nutricional, até que o bebê consiga mamar o volume necessário para
ganho de peso e crescimento adequados.

Ainda que o recém-nascido não esteja apto a alimentar-se no seio
materno, o fonoaudiólogo deve orientar a ordenha do leite materno,
já nas primeiras horas de vida, a fim de estimular a produção de leite
adequada e a oferta desse leite ordenhado ao bebê. Cabe ao
fonoaudiólogo acompanhar o desempenho desse bebê, ajudando as
mães a observarem os sinais de prontidão e de efetividade das mamadas.
Assim, conforme o bebê vai amadurecendo e aprimorando seu desempenho
no seio materno, inicia-se o processo de transição da sonda para o peito.
No decorrer desse processo, o volume do leite administrado pela sonda
vai sendo progressivamente reduzido, até que seja possível a oferta
exclusiva do seio sob livre demanda. Para atingir essa etapa, é necessário
que o bebê apresente um desempenho satisfatório em praticamente todas
as mamadas, nesse momento é importante que a mãe esteja confiante
e segura, para que o processo ocorra da melhor forma. Entretanto, nem
sempre a transição sonda-peito completa é viável. Assim, o fonoaudiólogo
deve utilizar-se de estratégias, como a introdução de bicos artificiais ou
utensílios facilitadores que abreviarão a retirada da sonda, mantendo a
promoção do aleitamento materno, de acordo com a necessidade de cada caso.

A prematuridade e sua relação com diversas intercorrências perinatais,
portanto, figuram entre os fatores de risco para acometimentos no
desenvolvimento neuropsicomotor, auditivo e linguístico. Nesse
cenário, a atuação do fonoaudiólogo como parte atuante em
uma equipe multidisciplinar envolvida, integrada e humanizada
é fundamental para favorecer o bom desenvolvimento global do
bebê prematuro.

Equipe de fonoaudiologia do Hospital Sepaco da esquerda para a direita:
Carla Borba, Paula Rocha, Lais Kasahaya e Clebes Costa.

Sobre os autores

  • Coordenadora da Equipe de Fonoaudiologia do Hospital Sepaco Mestre e Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de São Paulo

  • Fonoaudióloga Especializada em Disfagia Pediátrica, Dificuldades Alimentares na Infância e Desenvolvimento Cognitivo e de Linguagem em crianças de alto risco Graduada em Fonoaudiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP